O exército israelita bombardeou novamente hoje a Faixa de Gaza, incluindo Rafah, um dia depois de o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ter ordenado a suspensão das operações militares no enclave.
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As operações militares israelitas ocorrem num contexto de esforços em Paris para garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
Na sexta-feira, o mais alto tribunal da ONU - cujas decisões são juridicamente vinculativas, mas que não dispõe de mecanismos para as aplicar -- ordenou igualmente a Israel que mantivesse aberta a passagem de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito, essencial para a entrada de ajuda humanitária, mas encerrada após o lançamento da operação terrestre no início de maio.
Israel defendeu-se, afirmando que "não realizou nem realizará qualquer operação militar na zona de Rafah" suscetível de "conduzir à destruição da população civil palestiniana".
O exército israelita lançou operações terrestres em Rafah no dia 7 de maio, com o objetivo de eliminar os últimos batalhões do Hamas, que esteve na origem do ataque sem precedentes em solo israelita, em 7 de outubro, que levou à escalada de uma guerra com várias décadas. O movimento islamita palestiniano, que tomou o poder na Faixa de Gaza em 2007, congratulou-se com a decisão do TIJ, mas lamentou o facto de esta se limitar "apenas a Rafah".
No rescaldo, os bombardeamentos israelitas prosseguiram na Faixa de Gaza, nomeadamente em vários bairros do leste e no centro de Rafah. Registaram-se igualmente confrontos entre o exército israelita e o braço armado do Hamas.
"Esperamos que a decisão do TIJ pressione Israel a pôr fim a esta guerra de extermínio", declarou à agência noticiosa France-Presse (AFP) Oum Mohammad al-Ashqa, uma mulher palestiniana da cidade de Gaza deslocada pela violência em Deir al-Balah.
"Israel é um Estado que se considera acima da lei. Por isso, não acredito que a guerra possa terminar de outra forma que não seja pela força", sublinhou também à AFP Mohammed Saleh, refugiado nesta cidade no centro do território palestiniano,
Na madrugada de hoje, várias fontes palestinianas e equipas de reportagem da AFP também relataram ataques aéreos e fogo de artilharia em Khan Yunes (sul) e em vários bairros da cidade de Gaza (norte). Segundo testemunhas, caças e helicópteros atingiram o campo de Jabalia (norte) e dispararam contra alvos próximos de uma central elétrica a norte do campo de Nousseirat (centro).
Borrell avisa Israel que decisões são vinculativas
O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, recordou hoje a Israel que as ordens do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) são "vinculativas" e "devem ser plena e efetivamente aplicadas". O alerta de Borrel surge após o mais alto tribunal da ONU ter ordenado a Telavive que cesse a ofensiva militar em Rafah, um refúgio para civis palestinianos no sul de Gaza.
"Tomamos nota da ordem do TIJ a Israel no processo interposto pela África do Sul. As ordens do TIJ são vinculativas para as partes e devem ser plena e efetivamente aplicadas", afirmou Borrell numa mensagem na rede social X.
O chefe da diplomacia europeia recordou que, na decisão divulgada na sexta-feira, o mais alto tribunal da ONU exige que Israel "pare imediatamente a sua ofensiva em Rafah, mantenha a passagem de Rafah aberta para a assistência humanitária, garanta o acesso a qualquer órgão de investigação mandatado pela ONU para investigar alegações de genocídio e apresente um relatório ao TIJ sobre todas as medidas tomadas para cumprir esta ordem".