Espanha perdeu 9783 empregos em julho, os piores dados deste mês em 20 anos. Os baixos salários e as condições laborais afastam os trabalhadores.
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Depois de meses de recordes, julho trouxe um travão ao emprego em Espanha. Os números do Ministério do Trabalho espanhol revelam que, mesmo com o desemprego mais baixo desde 2008 - 2 550 237 pessoas - houve menos 9783 trabalhadores inscritos na Segurança Social, os piores dados de um mês de julho no país em 20 anos.
Os meses de verão são tradicionalmente de criação de emprego, pelas ocupações sazonais ligadas, sobretudo, ao setor do turismo. No mesmo período do ano passado criaram-se cerca de 22 mil empregos mas, este ano, o sentido foi inverso.
Um dos principais fatores que explicam estes números é o fecho das escolas e a prática habitual de despedir os professores não efetivos, para os voltar a contratar em Setembro. Só o setor da educação perdeu 122 500 trabalhadores em julho. Outro, diz respeito à redução de trabalhadores no campo, que perdeu cerca de 39 mil trabalhadores. E, por fim, a baixa contratação no setor de hotelaria, turismo e restauração.
Segundo os últimos dados disponíveis do Instituto Nacional de Estatística (INE), nos primeiros seis meses do ano, Espanha recebeu mais de 42 milhões de turistas, que gastaram cerca de 55 500 milhões de euros no país. Números nunca antes vistos, mas que não se refletem no número de empregos criados no setor: em julho contrataram-se apenas 12 mil pessoas, metade das contratadas no ano passado, em igual período.
Falta de pessoal
Por parte das entidades patronais, estas queixam-se da falta de pessoal. Segundo a organização Hotelaria de Espanha, em 2023 cerca de 50% das ofertas de trabalho ficaram por cobrir, um número que se pode repetir este ano.
“Falta pessoal qualificado e com experiência”, explica Bárbara Cabrera, presidente da Federação Canária de Ócio e Serviços, em declarações ao JN. “Por outro lado, acho que se criminaliza muito o setor. De há uns anos para cá, tudo o que vemos nas redes sociais são queixas sobre as horas de trabalho, os salários, e que não compensa”, descreve Cabrera.
“Os dados são o que são”, diz Marcos Gutiérrez, responsável da Federação de Serviços do sindicato Comissiones Obreras, ao JN, e “se o salário médio em Espanha, de acordo com o INE, ronda os 2200 euros brutos, neste setor chega apenas aos 1300. É muito complicado que alguém queira fazer carreira no setor desta forma”, explica o sindicalista.
Os salários, as condições de trabalho e os problemas na habitação ajudam a explicar a falta de pessoal. “Todos sabemos como está o problema da habitação no país inteiro e mais ainda nas zonas turísticas. Conseguir arrendar uma casa nessas zonas, com estes salários, é muito complicado”, considera Gutiérrez.
Mão de obra estrangeira
No ano passado, a Federação de Hotelaria de Cádis propôs recorrer a mão de obra estrangeira para resolver a falta de trabalhadores. “Sugeriram trazer, de forma legal, jovens de Marrocos, formados no setor, para a temporada de verão. E a nós também nos pareceria uma solução viável”, lembra Bárbara Cabrera.
Uma ideia que os sindicatos descartam. “Não aceitamos qualquer medida que caia na teoria de explorar os de fora, já que os daqui não se deixam explorar”, atira Gutiérrez. “O que faz falta é melhorar as condições de trabalho e salariais, porque o setor pode assumir isso”.
Os sindicatos lembram que dados da organização Hotelaria de Espanha preveem um aumento de entre 5% a 10% nos lucros de bares e restaurantes em relação a 2023. “O turismo vai ter outro ano de recorde, os lucros do setor vão bater de novo recordes e, portanto, o que há a fazer para que as pessoas queiram trabalhar aqui é dar melhores condições”, defende ainda Marcos Gutiérrez .
Turismo
42 milhões de turistas chegaram a Espanha nos primeiros seis meses deste ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística espanhol.