Um quarto das crianças dos seis meses aos cinco anos sofrem de subnutrição em Gaza, bem como as mulheres grávidas e lactantes examinadas na semana passada nas instalações locais dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), denunciou hoje a organização.
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"O uso deliberado da fome como arma de guerra pelas autoridades israelitas em Gaza atingiu níveis sem precedentes, com os doentes e os profissionais de saúde a sofrerem de fome", alertou a MSF em comunicado.
A coordenadora do projeto na clínica da MSF na Cidade de Gaza, Caroline Willemen, explicou que estão a registar "25 novos doentes desnutridos todos os dias".
Segundo o MSF, nesta clínica, o número de pessoas malnutridas quadruplicou desde 18 de maio, e a taxa de malnutrição grave entre as crianças com menos de cinco anos triplicou nas últimas duas semanas.
"Esta é uma fome deliberada, causada pelas autoridades israelitas no âmbito da campanha genocida em curso. Deixar passar fome, matar e ferir pessoas que procuram desesperadamente ajuda é inaceitável", denunciou a MSF.
Entretanto, alerta a MSF, "os ataques continuam em locais de distribuição de alimentos”.
A ONU acusou na terça-feira o exército israelita de matar mais de mil pessoas em Gaza em busca de ajuda humanitária desde o final de maio, a grande maioria delas perto de centros geridos por esta fundação, que conta também com o apoio dos Estados Unidos.
A 20 de julho, as equipas médicas da MSF e do Ministério da Saúde na Clínica Sheikh Radwan, no norte de Gaza, trataram 122 pessoas com ferimentos de bala enquanto aguardavam a distribuição de farinha, e 46 já estavam mortas à chegada.
A 3 de julho, um membro da equipa da MSF foi morto num incidente semelhante em Khan Younis.
Os níveis de subnutrição em Gaza agravaram-se em março com o encerramento total dos pontos de acesso, durante o qual não foi permitida a entrada de alimentos, medicamentos e combustível.
Israel acusa o Hamas de se apropriar da ajuda humanitária que entrava no território através de agências da ONU e de ONG, para seu uso e venda à população.
Acusa ainda as Nações Unidas de serem coniventes com o movimento islamita palestiniano, designado terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia, e diversos países.
Embora Israel tenha reaberto parcialmente as travessias no final de maio, o fluxo de ajuda continua a ser muito limitado e a sua distribuição em Gaza mantém-se de alto risco.
Num novo balanço do conflito, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou na quinta-feira que registou 59.587 mortos e 143.498 feridos.
Nessa contagem incluem-se pelo menos 115 mortos por fome ou desnutrição desde o início da ofensiva israelita, em outubro de 2023.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.