Relatos de vítimas da repressão somam-se a imagens para alertar para a situação em Minsk. Governo liberta detidos.
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O relato do jornalista russo Nikita Telyzhenko é o de 24 horas nas mãos da repressão que se abate sobre a Bielorrússia de uma forma tão violenta que levou a União Europeia a aprovar sanções dirigidas aos dirigentes daquela pequena ex-república soviética onde a população perdeu o medo. E recusa as imposições do seu presidente, Alexandr Lukashenko, no poder há 26 anos e reeleito com 80% dos votos em eleições que as ruas consideram fraudulentas.
O repórter do Znak.com foi detido quando cobria as movimentações, no dia 10. Passou horas no chão de uma sala de uma esquadra, entre um número incontável de pessoas obrigadas a estar no chão, de barriga e cabeça para baixo, mãos atrás da nuca, o nariz no sangue que se espalhava. "Um tapete vivo, num charco de sangue". Depois, enlatado com 30 numa cela para dois. Depois no pátio de uma prisão. A testemunhar espancamentos sumários, com tudo o que viesse à mão. A intervenção da diplomacia russa libertou-o, 24 horas depois.
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A guerra desnecessária
Aliados à multiplicação de imagens em redes que o Governo não consegue controlar, como o Telegram, os relatos sucedem-se todos num sentido: "a guerra de um ditador contra o seu povo no coração da Europa", como escreve, em editorial, o francês "Le Monde", pedindo a atenção da Europa.
Da Lituânia onde se exilou, a candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, oficialmente creditada com 10% dos votos (gravações que extravasaram a Bielorrússia dão conta de diálogos em mesas de votos com oficiais a pedir a troca de nomes à frente dos votos), apelou a manifestações pacíficas por todas as cidades.
E a verdade é que, aos protestos massivos noturnos se vão substituindo as iniciativas diurnas de cordões humanos, flores e balões. Com imagens como a que ilustra este texto: manifestantes a abraçar elementos das forças de segurança, inertes estes, olhos semicerrados. Outras imagens são de operários a largar as linhas de produção (algumas em portentados industriais bielorrussos) em greve pela mudança.
O Governo, num gesto de apaziguamento, libertou já milhares de detidos e anunciou-se "pronto para o diálogo construtivo e objetivo com os parceiros estrangeiros sobre todas as questões ligadas aos acontecimentos desde a campanha". E a líder do Senado pediu o fim da autodestruição. "Não precisamos de uma guerra". Com flores e balões e abraços de um dos lados. E o silêncio de Lukashenko a abafar as bastonadas e coronhadas do outro.
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Bruxelas aprova sanções dirigidas aos responsáveis
"Necessitamos de medidas adicionais contra aqueles que violaram os valores democráticos ou cometeram abusos contra os direitos humanos na Bielorrússia", avisara a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esta sexta-feira cedo, antes de uma reunião extraordinária dos representantes das 27 diplomacias da União. Decidiram por sanções em retaliação pelas "violências, detenções e fraudes relacionadas com a eleição" presidencial.