Unicef Portugal alerta que subnutrição infantil em Gaza aumentou 180% e pede donativos urgentes
A Unicef Portugal pediu esta quarta-feira donativos urgentes aos portugueses para dar resposta à catástrofe humanitária em Gaza e na Cisjordânia, lembrando que 18 mil crianças já morreram e que os níveis de subnutrição infantil no enclave aumentaram 180% desde fevereiro.
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"A Unicef precisa urgentemente de apoio financeiro e da abertura de corredores humanitários que permitam levar auxílio aos menores de idade", afirmou a agência da ONU, num comunicado hoje divulgado.
Segundo a organização, são necessários 403,6 milhões de euros adicionais face à dimensão da crise, sendo que a Unicef conseguiu financiamento para apenas 35% do seu apelo de emergência.
"A cada dia que passa, mais crianças pagam com a vida o preço da inação. A situação em Gaza constitui uma emergência humanitária de proporções históricas que não pode continuar a agravar-se", sublinhou a diretora executiva da Unicef Portugal, Beatriz Imperatori.
Para a agência das Nações Unidas de defesa e promoção dos direitos das criança, as pausas humanitárias em Gaza representam "uma oportunidade vital" para aumentar o acesso e a entrega de ajuda essencial a mais de dois milhões de pessoas, metade das quais crianças, e que estão presas numa crise humanitária sem precedentes.
"Desde o colapso do cessar-fogo a 18 de março, a população de Gaza vive privada dos elementos básicos para a sobrevivência, como água, eletricidade e combustível, fundamentais para garantir o funcionamento dos serviços essenciais", recordou a organização, adiantando que "as crianças não têm acesso a comida, estão traumatizadas e sem lugar seguro onde se refugiar".
Citando dados do Ministério da Saúde do enclave, que é controlado pelo grupo islamita Hamas mas cujos dados são considerados fiáveis pela ONU, a Unicef adianta que uma em cada três pessoas em Gaza está em privação alimentar e 80% das mortes por fome reportadas são de crianças.
Por outro lado, além de a ajuda humanitária ser insuficiente, está constantemente sob ameaça.
"Desde 19 de maio, data em que os camiões da Unicef e do Programa Alimentar Mundial conseguiram regressar a Gaza após 78 dias de bloqueio total, a distribuição tem sido marcada por bombardeamentos, falta de combustível, colapso da ordem pública e insegurança extrema", reforçou a agência.
O atual modelo de distribuição, centrado na Fundação Humanitária de Gaza (estrutura apoiada pelos Estados Unidos e por Israel), aponta ainda a Unicef, "tem exposto os civis a riscos inaceitáveis: mais de 900 pessoas morreram e quase 6.000 ficaram feridas ao tentarem aceder a alimentos, muitas delas crianças".
Embora a Unicef tenha conseguido entregar alguns alimentos, vacinas e leite infantil, a quantidade é insuficiente e "milhares de crianças e famílias continuam em sofrimento extremo".
Além da fome e de quase um milhão de pessoas estarem deslocadas e sem abrigo, os palestinianos enfrentam uma escassez de água alarmante, alerta igualmente a organização, referindo que 95% das famílias não têm acesso adequado a este recurso essencial.
"Este financiamento é vital para combater a subnutrição galopante, garantir o acesso a água potável, cuidados de saúde, proteção, educação e apoio financeiro às famílias", concluiu.
Na terça-feira, a principal autoridade internacional em crises alimentares alertou que "o pior cenário de fome está atualmente a desenrolar-se na Faixa de Gaza", prevendo "mortes generalizadas" se não for tomada uma ação imediata.
Segundo o sistema de monitorização Classificação Integrada de Fases (IPC), Gaza está à beira da fome há dois anos e os "bloqueios cada vez mais rigorosos de Israel" têm "piorado drasticamente" a situação.
A pressão internacional levou Israel a anunciar medidas no fim de semana, incluindo pausas humanitárias diárias nos combates e lançamentos aéreos de ajuda humanitária, mas a ONU afirma que pouco mudou.
Apesar dos alertas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, garantiu que ninguém está a passar fome em Gaza e que Israel prestou ajuda suficiente durante a guerra.