
Publicidade da Pizza Hut
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Há 94 anos nascia a União Soviética. Coincidentemente, desapareceria pela mesma altura do ano, há 25 anos.
Um reformado entra com a neta num restaurante moscovita. Um homem com ar de operário reconhece-o: "É Gorbachov! Por causa dele, temos uma grande confusão económica..., instabilidade política..., o caos completo". Outro, ar jovem e moderno, replica: "Por causa dele, temos oportunidade..., liberdade..., esperança...". Uma avó concilia: "Por causa dele temos muitas coisas... como a Pizza Hut!"
Quando, há 94 anos - cumprem-se esta sexta-feira - o 1.º Congresso de todos os sovietes da união aprovou o tratado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Lenine estava a anos-luz de imaginar que, algum dia, um dos mais expoentes símbolos do capitalismo conquistaria a praça-forte do Socialismo.
O filme publicitário da cadeia norte-americana foi difundido em junho de 1998. Michail Gorbachov deixara de ser presidente da URSS e a própria união extinguira-se em dezembro de 1991 - há 25 anos.
"Nesta hora difícil, para mim e para todo o país, quando um grande Estado deixa de existir, continuo fiel aos meus princípios, que me inspiraram na defesa da ideia de uma nova união", declarou na derradeira mensagem, no dia 25, anunciando pela televisão a renúncia ao cargo. A dissolução da URSS foi aprovada no dia seguinte pelo Parlamento, que se auto-extinguiu. Na realidade, já não existiam.
O empurrão decisivo é a cimeira dos presidentes da Rússia (Boris Ieltsin), Ucrânia (Leonid Kravchuc) e Bielorrússia (Stanislav Sushkevich) num palacete da presidência bielorrussa em plena floresta. O preâmbulo do Acordo de Belavezha é fulminante: "A URSS, como sujeito de direito internacional e realidade geopolítica, deixa de existir". O artigo primeiro estabelece: "As altas partes contratantes formam uma Comunidade de Estados Independentes" (CEI).
Recolhidas as assinaturas, Ieltsin telefona de imediato ao presidente dos EUA, George Bush, a prestar-lhe contas. A administração norte-americana estava ao corrente e financiaria os novos estados. Para Bush e o seu secretário de Estado, James Baker, os objetivos cumpriam-se: "democratização, implementação da economia de mercado e o controlo do arsenal nuclear".
Gorbachov nada sabia do que tratavam os conspiradores do "golpe inconstitucional", mas não os mandou prender, receando desencadear uma guerra civil. Recebendo Ieltsin no dia seguinte, em nome da "troika", rejeita o acordo, crente de que o seu projeto de novo Tratado manteria intacta a União, apesar de as declarações de independência de repúblicas se sucederem.
No dia 21, outras oito juntam-se, em Alma-Ata, no Cazaquistão, aos fundadores da CEI. Gorbachov é forçado a passar o poder a Ieltsin. A renúncia teria lugar no dia 25; uma cimeira da CEI no dia 30 desmantelaria o aparelho soviético e a bandeira soviética seria arriada a 31. "As mudanças no Leste servem os interesses americanos", declara Bush.
A imediata liberalização
Boris Ieltsin liberaliza os preços a 2 de janeiro. Com a sua "terapia de choque" apoiada por especialistas americanos, pelo Fundo Monetário Internacional e outras organizações, escancara a estrangeiros e à elite reconvertida do KGB, do Exército e ex-dirigentes comunistas a privatização de mais de 15 mil empresas, geralmente muito subavaliadas, na Rússia.
Explica o sociólogo Boris Kagarlitksky ao diário espanhol "Público", o PIB caiu 40%, inúmeras fábricas encerraram, o desemprego oficial cresceu até aos 12%, a corrupção e a criminalidade floresceram. Entre 1991 e 98, a produção agrícola e industrial diminuiu para metade e o poder de compra caiu para níveis dos anos 1950.
