Um fármaco usado para tratar doentes com VIH, o vírus causador da SIDA, está a ser testado em pacientes na China como terapêutica contra o novo coronavírus, que já causou mais de 700 mortos e 30 mil infetados. Como efeito, a procura no mercado paralelo aumentou.
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O Kaletra, uma combinação de dois medicamentos de combate ao VIH (lopinavir e ritonavir), tem sido usado, num ensaio clínico, em pacientes internados desde dia 18 de janeiro, na China. Segundo A meta é testá-lo em cerca de 200 doentes, cujo estado de saúde será detalhadamente monitorizado durante o processo de tratamento. Os resultados serão depois comparados com os de pessoas com o mesmo grau de doença que não receberam o medicamento.
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Para já, não existem fármacos com eficácia comprovada para o tratamento da nova infeção, e os que foram usados durante os surtos de coronavírus anteriores (SARS, em 2002, e MERS, em 2012) não servem para tratar os pacientes afetados pelo 2019-nCoV - como é um vírus emergente, os tratamentos existentes não foram desenhados especificamente para o combater. Na Arábia Saudita, onde ainda existem casos de MERS (síndrome respiratória do Médio Oriente), o Kaletra, combinado com outra substância (o interferon), está a ser administrado a doentes. Mas, devido ao pequeno número de casos, demorará muito tempo até se chegar a conclusões.
A Gilead, fabricante de medicamentos contra o VIH, anunciou que vai testar o seu antivírico no novo surto. O fármaco em causa (remdesivir) foi testado durante o surto de Ébola na República Democrática do Congo em 2018, tendo as autoridades congolesas esclarecido, na altura, que não era suficientemente eficaz.
Corrida ao mercado negro
As notícias de que os remédios para a SIDA estão a ser usados em hospitais levaram a uma corrida desenfreada ao mercado negro, por pessoas que temem estar ou vir a ficar doentes. De acordo com o jornal britânico "The Guardian", muita gente tem obtido o Kaletra, a partir de empresas de genéricos da Índia e até através de pessoas com VIH na China, dispostas a vender ou doar os próprios medicamentos.