A Índia teve o mês de março mais quente desde que há registo no país e abril já está a seguir os mesmos passos.
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Os termómetros não param de subir na Índia e o cenário não se mostra animador. O primeiro-ministro, Narendra Modi, afirmou na quarta-feira, numa conferência de imprensa online, que "as temperaturas estão a subir rapidamente no país e muito mais cedo do que o habitual".
O mês de março foi o mais quente desde que o Departamento Meteorológico da Índia começou a fazer registos, há 122 anos. E, de acordo com a entidade governamental responsável pelas previsões do tempo, o calor vai aumentar ainda mais nos próximos quatro dias. Os meteorologistas avisam que algumas cidades podem chegar perto dos 50 graus Celsius, com o especialista Scott Duncan a dizer que "esta onda de calor vai ter um impacto em mais de 10% de toda a população do planeta".
Na capital, Nova Deli, as temperaturas subiram além dos 40 graus durante vários dias e prevê-se que permaneçam até cerca de 44 graus até domingo, com o calor máximo do verão ainda por vir, antes de as chuvas frias das monções chegarem, o que geralmente acontece em junho. Entre as regiões mais atingidas pelo calor extremo, estão os estados tipicamente húmidos do leste indiano, com as temperaturas a superarem os 43 graus, na quarta-feira passada. Já na terça-feira, o país tinha registado 41 graus, nas margens do rio Ganges, em Varanasi, no estado de Uttar Pradesh.
"É raro que quase todo o país esteja a sofrer uma onda de calor", disse a climatóloga Arpita Mondal, do Instituto Indiano de Tecnologia de Bombaim, na costa de Maharashtra, onde o calor é "insuportável", descreve a especialista. As temperaturas da cidade atingiram os 37 graus na quarta-feira.
Vaga de calor provocou milhares de mortes em 2015
As consequências da vaga de calor já são visíveis. Um aterro sanitário está há três dias a arder nos arredores da capital, Nova Deli. "Nos últimos dias, estamos a assistir a cada vez mais ocorrências de incêndios em vários locais - na selva, em edifícios importantes e em hospitais", referiu o primeiro-ministro indiano.
Narendra Modi pediu aos estados para realizarem fiscalizações de segurança contra incêndios nos hospitais. Dezenas de pessoas morrem todos os anos na Índia em incêndios em instituições de saúde e fábricas, principalmente devido à construção ilegal e às parcas normas de segurança.
Mais de mil milhões de pessoas estão com a saúde em risco devido aos impactos relacionados com o calor, como asseveram os cientistas. Devido aos incêndios, o ar torna-se tóxico para o ser humano.
As ondas de calor cada vez mais intensas são principalmente preocupantes para as pessoas mais pobres do país. Motoristas de riquexó (veículo de duas rodas puxado por uma pessoa a pé ou de bicicleta, frequente em cidades do Oriente), vendedores de rua e sem-abrigo correm um maior risco devido à mais elevada exposição ao calor e à luz solar. Durante os períodos de ondas de calor, a Índia também costuma sofrer de escassez de água, com dezenas de milhões de pessoas com falta de água corrente. Em 2015, pelo menos 2081 morreram durante uma onda de calor, a pior do país desde 1992.
Em fevereiro deste ano, um relatório do Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas alertou para as vulnerabilidades da Índia no que diz respeito ao calor extremo. Se chegar a 1,5 graus de aquecimento acima das temperaturas pré-industriais, a capital de Bengala Ocidental de Kolkata poderia, uma vez por ano, ver as condições meteorológicas corresponderem à onda de calor de 2015, quando as temperaturas atingiram os 44 graus e milhares de pessoas morreram em todo o país.
A climatóloga Arpita Mondal descobriu que a poluição urbana também pode desempenhar um papel no aumento das temperaturas, com o carbono negro e a poeira a absorverem a luz solar, o que leva a um maior aquecimento nas cidades da Índia. A especialista garante ainda que as alterações climáticas são "sem dúvida" um fator que contribui para os fenómenos climáticos extremos.