Novos casos estão a surgir para lá das zonas designadas como "pontos críticos". Desconfinamento está em risco: ainda só 32% dos ingleses estão totalmente vacinados.
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Três em cada quatro casos de novas infeções de covid-19 no Reino Unido estão a ser provocados pela nova variante da Índia. Esta constatação está a alarmar a comunidade científica, que alerta que o país se encontra já no estágio inicial de uma terceira vaga do coronavírus.
O alívio total das restrições em Inglaterra, que deveria, segundo o governo de Boris Johnson, entrar em vigor em 21 de junho, está em risco e a data da libertação social deve agora ser reconsiderada.
Mais transmissível
A variante indiana da covid é mais transmissível do que a transmutação detetada pela primeira vez na zona de Kent, no sudeste da Inglaterra, próximo de Londres, e um pouco mais resistente às vacinas contra a covid, especialmente para quem tenha tomado apenas uma dose do medicamento.
Conhecida como a variante B.1.617.2, na nova nomenclatura decidida pela Organização Mundial de Saúde, que adotará letras do alfabeto grego para as mutações, de modo a evitar estigmas ou reações xenófobas, vai designar-se, daqui para a frente, como "variante delta".
Variante dominante
Dados do Wellcome Sanger Institute, que rastreia as variantes detetadas em amostras positivas para covid através do sequenciamento do genoma, revelaram que a variante indiana já está a espalhar-se Inglaterra fora - e que é já a variante dominante.
Partes do noroeste inglês, como Bolton, Blackburn ou Darwen, estavam identificadas como pontos críticos para esta variante. Mas, novos dados mostram que nas duas semanas até 22 de maio, segundo números analisados pelo diário "The Guardian", a B.1.617.2 surgiu em áreas tão distantes quanto a Floresta de Dean, Babergh, Wycombe ou Cornwall. As infeções nessas áreas, no entanto, ainda permanecem baixas.
Noutras áreas, incluindo partes das Midlands e o sudeste, há sinais de que a variante B.1.617.2 está tornar-se comum. Em Croydon, 94,1% das amostras positivas para covid analisadas continham a variante da Índia nas duas semanas até 22 de maio.
Já fugiu dos "hotspots"
"É uma variante altamente transmissível e com uma capacidade significativa de fugir às vacinas - especialmente após uma única dose -, e leva a um aumento exponencial de casos em muitas áreas", disse Deepti Gurdasani, epidemiologista e investigadora da Queen Mary University of London.
"Quando o governo alegou que os primeiros surtos detetados foram localizados, era para nós muito claro que a B.1.617.2, embora com diferentes frequências em diferentes regiões, estava a aumentar rapidamente em toda a Inglaterra. Isto significa que a variante se tornaria dominante mesmo onde não era ainda frequente, e que isso seria uma questão de semanas. Ora, foi exatamente isso que aconteceu", disse Deepti Gurdasani, citada pelo "The Guardian".
Por seu lado, Paul Hunter, professor de medicina da University of East Anglia, confirma que a variante da Índia se tornou mais dispersa geograficamente.
"Acho que é justo dizer que a B.1.617.2 já não está contida em "hotspots", mas ainda não está a crescer substancialmente em todas as áreas. Mas isso é exatamente o que já esperávamos", disse.
Nesta altura, a Grã-Bretanha vacinou 32% da sua população de 64 milhões de pessoas.