Nova variante é mais transmissível e pode ser uma mais-valia na atribuição de imunidade natural à população de países com uma taxa de vacinação mais baixa.
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Detetada há pouco mais de um mês na África do Sul, a variante ómicron já é considerada como a que tem a propagação mais rápida da História. A conclusão foi apresentada por Roby Bhattacharyya, especialista em doenças infeciosas do Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA, que estimou que um caso de ómicron dá origem a seis casos em quatro dias, 36 em oito dias e 216 em 12 dias, cita o jornal "El País". Significa esta estimativa que, em 35 dias, a ómicron poderia atingir 280 mil pessoas, enquanto o sarampo, um vírus altamente transmissível, se ficaria pelas 2.700.
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"É o vírus mais explosivo", refere Anton Erjoreka, diretor do Museu Basco da História da Medicina, ao mesmo jornal, notando que a peste negra, no século XIV, e a cólera, no século XIX, precisaram de anos para se propagarem pelo Mundo.
Aparentemente, os dados podem parecer assustadores, mas o facto da variante se disseminar mais rapidamente pode ser benéfico, e um sinal de que a pandemia está mais perto do fim.
"Para nós, esta enorme disseminação é boa, porque estamos a ser expostos a um vírus menos agressivo que causa doença mais ligeira, e como tal estamos a criar imunidade natural", sublinha a virologista Laura Brum, explicando que quando um vírus é mais transmissível é, automaticamente, menos grave, causando uma taxa de mortalidade mais baixa.
Sinal positivo
A prova disso, destaca a especialista, é o que acontece em África com a ébola. Ao contrário do que acontece com a ómicron, "este vírus, tem uma taxa de mortalidade enorme no continente africano, mas é muito pouco transmissível. Carateriza-se por se expandir em focos isolados, mas como mata o hospedeiro, acaba por transmitir menos. Por outro lado, os indivíduos doentes acabam por se isolar, nem que seja na hospitalização, e acabam por não disseminar o vírus pelo mundo fora".
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O facto de a ómicron ser mais transmissível, mas menos perigosa, pode ser uma oportunidade para que algumas zonas do planeta, que têm uma baixa taxa de vacinação, ganhem imunidade natural sem que se observem repercussões fatais. A imunidade de populações pouco vacinadas também pode fazer com que exista um retardamento do aparecimento de novas variantes o que pode fazer com que o Mundo caminhe para uma endemia.
Endemia está longe
Ao recordar que durante uma pandemia é essencial ter uma visão global, e não apenas focada em algumas regiões do globo, Laura Brum acredita que estas variantes menos transmissíveis podem fazer um bom caminho em muitas regiões africanas. "Em Angola, a taxa de elevação é altíssima mas não está acompanhada por uma elevada taxa de mortalidade, sendo que a taxa de vacinação nos países africanos é muito inferior à da Europa. Isto é a prova de que o vírus não apresenta muita agressividade, independentemente da vacinação".
Também o virologista Pedro Simas vê vantagens neste método. Ainda que priorize a vacinação como elemento chave na luta contra a pandemia, assegura que "nos países africanos, em que não há capacidade de vacinar a uma escala mais elevada, o aparecimento de uma variante que é muito contagiosa e é menos violenta é uma ótima notícia".
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A opinião de ambos os especialistas converge quando questionados se o Mundo já está a entrar numa endemia. Os virologistas destacam que ainda é cedo para falar nesta transição, já que para que tal aconteça, é necessário que não hajam picos de casos e que a população conviva de forma natural com o vírus. Ainda assim, Pedro Simas frisa que "esta forte disseminação é o caminho para que o Mundo entre na endemia". Já Laura Brum, destaca que este passo pode ser dado daqui a poucos meses.
"Flurona"
Trata-se do contágio simultâneo pelo SARS-CoV-2 e pelo vírus influenza (gripe). O primeiro caso foi detetado numa grávida não vacinada em Israel. A mulher já teve alta, mas as autoridades de saúde do país acreditam que existam mais casos semelhantes. Ao JN, o virologista Pedro Simas refere que o caso é normal, sobretudo nesta época do ano. O especialista acredita que, mesmo que sejam detetados mais casos de infeção dupla, esta não representa um risco para o Mundo.