O corpo de Jorge Mario Bergoglio foi colocado, nesta quarta-feira de manhã, na Basílica de São Pedro, para que o povo possa despedir-se dele antes do funeral do próximo sábado. Milhares esperaram horas na fila para uma homenagem sentida com o desejo de que quem se seguir continue o percurso.
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Com a Basílica de São Pedro à vista a espreitar pelos telhados, num dia tão caótico como outro qualquer em Roma, a massa humana engrossa numa amálgama de turistas apanhados durante as férias pela morte do líder da Igreja Católica, crentes e religiosos, com línguas de vários pontos do Mundo a espalharem-se misturadas. Já na praça, o tom muda. De um lado, a agitação de jornalistas a trabalhar, do outro, para lá das barreiras e com o sol a queimar, uma fila imensa aos ziguezagues enche a zona central da cidade do Vaticano. São aqueles que se querem despedir do Papa Francisco que, desde a manhã desta quarta-feira, pode ser visitado em câmara-ardente, para uma última homenagem.
Já depois de quatro horas de espera e de saída para continuar as férias em Roma, está Filipe Medeiros e a família: Maria Rita, a mulher, Maria Inês e Mariana, as filhas. Tinham já estes dias de descanso marcados há muito tempo e decidiram aproveitar para estarem presentes num "momento histórico". Têm fé, mas para esta visita é mais uma "questão cultural", como visitar outros monumentos em Roma. "Está feito, está feito", atalha Filipe, para seguir caminho depois da espera prolongada. Antes, um dos agentes da proteção civil dizia-nos que previam apenas duas horas de fila, mas o olhar desanimado não escondia a realidade. Só neste primeiro dia, estiveram 20 mil pessoas até ao final da tarde junto ao corpo de Francisco e, mesmo num momento de solenidade, há sempre tempo para umas fotografias ou vídeos.
Mas nem todos estão aqui para ver a parte monumental da cidade. Alessandra e Giuliana são romanas e não podiam faltar a este momento, com este Papa. Para elas a espera foi ainda mais longa. Cinco horas para prestar homenagem e demonstrar respeito a Francisco, uma espera que valeu a pena pela humildade do pontífice e as causas que abraçou no seu mandato. "Quando estamos à frente dele e nos apercebemos que está morto...", emociona-se Alessandra, que tinha de estar presente, enquanto cidadã da capital italiana.
E sobre o futuro? "Que o próximo Papa venha com as mesmas ideias, claro, mas é muito difícil, especialmente neste Mundo. É muito difícil. A caridade que ele trouxe para o Vaticano tem sido uma coisa muito rara". A mesma ideia tem o casal brasileiro Adriana Ustulim e Paulo César, de São Caetano, São Paulo, que gostava de uma "continuidade" no trabalho de abertura da Igreja que Jorge Mario Bergoglio iniciou.
Um Papa marcante
"Era um Papa que falava das pessoas normais, conversava com as pessoas excluídas, ele pensava nas pessoas, era um Papa diferenciado", explicou Paulo, com dificuldade ainda em colocar Francisco no passado, já que "já estará no Reino de Deus". Sobre o dia investido nesta espera, falam em privilégio em poder assistir ao vivo àquilo "que todo o Mundo está a ver na TV".
Com o passar das horas, as filas para ver o Papa foram engrossando e nem as nuvens ameaçadoras que taparam o sol e a trovoada que rugiu afugentaram os fiéis. Já a caminho do jantar, encontramos um grupo de Torres Vedras. Chegaram hoje a Itália e querem um último momento com Francisco, após terem sido recebidos no Vaticano antes da Jornada Mundial da Juventude, enquanto voluntários. João Antunes, de 24 anos, serve de porta-voz, para destacar um ponto fundamental dos últimos 12 anos de pontificado: a ligação com a juventude.
"Tocou-nos, abriu a Igreja a todos, como ele próprio disse. Acho que aproximou os jovens, muitos jovens andavam perdidos e acho que este Papa conseguiu voltar a trazer os jovens para a Igreja Católica", afirmou, antes de repor energia, para tentar ver Francisco mais à noite, uma altura talvez propícia a filas mais curtas.