Ex-emigrante recorda país em crise que abandonou há um ano.
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“Nunca pensei que a Venezuela chegasse ao ponto em que está agora. Creio que nem a pessoa mais pessimista previa um futuro tão amargo como os dias que agora se vivem neste país”. As palavras, em forma de lamento bem expresso no rosto, pertencem a Rodrigo Ferreira. O antigo emigrante, natural de Santa Maria da Feira e que regressou há cerca de um ano a Portugal, após 59 anos neste pais da América do Sul, fala com conhecimento de causa, pelas longas décadas que viveu do outro lado do Atlântico.
“Há muita diferença entre a Venezuela que eu conheci aos 20 anos e a de atualmente”. Entre elas, aponta, as necessidade por que passa o povo. “Os salários são muito baixos e o poder de compra é praticamente nenhum”, afirma. Rodrigo Ferreira adianta que as reformas “são uma miséria e o dinheiro não chega para nada”. Atualmente, “o salário mínimo na Venezuela é equivalente a quatro dólares e, mesmo que alguém ganhe entre 150 a 200 dólares, vai passar dificuldades”, garante, já que o custo de vida “está mais ou menos ao nível dos países europeus, como em Portugal, mas os ordenados não chegam”. O português começou por trabalhar por conta própria na Venezuela, aos 18 anos, como alfaiate. Mais tarde, passou a ter uma loja de venda de calçado, mas, “nos últimos dois anos, as vendas não cobriam os custos para manter o negócio”. Um cenário que atribui à “implacável” inflação. É “criminosa e comeu tudo às pessoas que tinham poupado alguma coisa”.