"Vergonha e aberração": cartaz de Jesus Cristo seminu choca ultraconservadores em Sevilha
Pintura de Jesus Cristo com pano branco da cintura para baixo despertou ódios entre o meio mais conservador da cidade espanhola. Autor do cartaz riu-se da polémica e condenou "politização" do que diz ser uma obra "gentil" e "bonita" feita com "respeito".
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O cartaz oficial da Semana Santa de Sevilha, no sul da Espanha, provocou indignação em meios de comunicação católicos ultraconservadores da cidade, que exigiram a sua remoção por considerá-lo ofensivo. Apresentado no sábado, o quadro, criado pelo artista sevilhano Salustiano García, mostra um Jesus Cristo coberto por um pano branco nas zonas da pélvis e da anca.
A organização da Semana Santa de Sevilha, que reúne as irmandades da cidade que participam nas procissões da festividade católica local, sublinharam, em comunicado, que a criação reflete "a parte luminosa da Semana Santa" no "mais puro estilo deste prestigiado pintor". Mas a opinião esteve longe de ser unânime e a obra, que deveria ser exposta por toda a cidade, onde as tradições católicas ainda são muito presente, acabou por gerar muito falatório nas redes sociais, com inúmeros internautas e uma associação católica ultraconservadora a denunciarem caráter o "sexualizado" da imagem.
Dez mil pessoas assinaram petição
O Instituto de Política Social, uma organização que defende os "símbolos cristãos" e que se posiciona contra o aborto, descreveu o cartaz como "uma verdadeira vergonha e aberração", ao apresentar um Cristo "efeminado". A instituição pediu a remoção da obra e exigiu um pedido público de desculpas do seu autor, argumentando que esta representação não está de acordo com o espírito da Semana Santa.
O líder do partido de extrema direita Vox, Javier Navarro, também se juntou às críticas, declarando, na rede social X (ex-Twitter), que o cartaz "procurava a provocação" e se distanciava de seu objetivo de "encorajar a participação devota dos fiéis na Semana Santa de Sevilha". E, na segunda-feira, mais de 10 mil pessoas assinaram uma petição pública na plataforma Change.org pedindo a defesa da "tradição" e do "fervor religioso" de Sevilha contra a pintura.
Autor "surpreendido com politização" do quadro
Algumas reações foram denunciadas pelo autor da obra, que, em entrevista ao jornal ABC, defendeu que a sua pintura é "gentil, elegante e bonita", e é feita com "respeito". "É preciso estar doente para ver sexualidade no meu Cristo", asseverou Salustiano García, argumentando que "não há nada" no seu quadro que "não esteja representado em obras de arte de há muitos séculos".
Salustiano García, cujo trabalho está exposto em galerias de todo o mundo, explicou que usou o seu filho como modelo para o cartaz. "Nós dois rimo-nos com esta polémica e estamos muito surpreendidos com a politização que está a ser feita em torno do quadro", adiantou o artista, que contou com o apoio do líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) da Andaluzia, Juan Espadas, que saiu em defesa do cartaz, denunciando "as expressões de homofobia e ódio" a que deu origem.