Victoria's Secret paga 8,3 milhões em salários "roubados" a trabalhadores despedidos
Mais de mil trabalhadores despedidos de uma fábrica tailandesa, que fornecia lingerie à marca Victoria's Secret, receberam uma indemnização total de 8,3 milhões de dólares (7,7 milhões de euros), num acordo "sem precedentes" no âmbito de roubo salarial.
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A Brilliant Alliance Thai fechou a sua fábrica em Samut Prakan, no sul de Banguecoque, em março de 2021, após falir. Mas os 1250 trabalhadores que ficaram sem emprego - muitos dos quais trabalhavam na fábrica há mais de uma década - não receberam as indemnizações exigidas pela lei tailandesa.
A fábrica têxtil também produzia roupa interior para as marcas americanas Lane Bryant e Torrid, propriedade da Sycamore Partners - mas apenas a Victoria's Secret contribuiu para um acordo que permitiu aos trabalhadores receberem as verbas a que tinham direito, através de um empréstimo aos proprietários da fábrica.
Alguns trabalhadores receberam o equivalente a mais de quatro anos de salário ao abrigo deste acordo, segundo representantes sindicais.
A Victoria's Secret confirmou, em comunicado, que tinha sido alcançado um acordo, mas não revelou o montante envolvido. "Há vários meses estamos em contacto com os donos da fábrica para encontrar uma solução. Lamentamos que eles não tenham conseguido concluir este assunto sozinhos. A Victoria's Secret concordou em adiantar os fundos para os proprietários da fábrica", indicou a reconhecida marca de lingerie.
É [um acordo] sem precedentes e representa um novo modelo
Jitnawatcharee Panad, que trabalhou na fábrica durante 25 anos, disse à agência AFP que mais de um terço dos trabalhadores despedidos eram mulheres com 45 anos ou mais. "Se não tivéssemos lutado por uma compensação justa, não teríamos recebido nada", frisou a ex-funcionária, que é também presidente de um sindicato de trabalhadores na Tailândia.
Segundo a organização internacional de defesa dos direitos dos trabalhadores Solidarity Centre, este acordo é o mais importante já celebrado por uma fábrica de vestuário por falta de pagamento do trabalho realizado.
"Penso que é [um acordo] sem precedentes e representa um novo modelo - a escala de indemnizações e juros pagos sobre ele ... bem como o envolvimento direto da marca", sublinha o diretor, David Welsh.
Roubo de salários na indústria do vestuário disparou durante a pandemia, à medida que as encomendas de vestuário diminuíam
Durante o ano passado, os trabalhadores despedidos e representantes sindicais tailandeses protestaram no exterior da Casa do Governo em Banguecoque exigindo o pagamento que lhes era devido.
O presidente da Confederação do Trabalho Industrial da Tailândia, Prasit Prasopsuk, disse que alguns trabalhadores em protesto chegaram a ser acusados de crimes, incluindo pela violação das regras de confinamento durante a pandemia.
"Este caso serve como lição no futuro para o governo... para assegurar que as empresas estrangeiras que fazem negócios na Tailândia atribuam alguma parte do lucro mensal para uma compensação justa quando estas empresas cessarem as suas operações no país", defende.
Um relatório do Consórcio de Direitos Laborais, de abril de 2021, documentou casos semelhantes de roubo de salários em 31 fábricas de vestuário em nove países.
O diretor executivo, Scott Nova, disse que esses casos eram apenas "a ponta do icebergue" e que a questão do roubo de salários na indústria do vestuário tinha explodido durante a pandemia, à medida que as encomendas de vestuário diminuíam.
O que estes trabalhadores da fábrica de Samut Prakan receberam, através deste acordo, "é o equivalente às economias de uma vida... e é simplesmente roubado. O que significa perder isso e recuperá-lo é difícil de descrever por palavras", acrescentou Scott Nova.