
Humorista de "Porta dos Fundos" gravou vídeo na embaixada brasileira em Roma
Foto: Direitos Reservados
Um anúncio da campanha de final de ano da Havaianas, famosa marca brasileira de sandálias, protagonizado pela atriz Fernanda Torres, está a causar polémica no Brasil e já abriu uma crise diplomática. Em causa está um vídeo publicado pelo ator brasileiro Fábio Porchat a ironizar a reação de políticos da Direita brasileira à publicidade.
"Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não, não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, né? Depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o Ano Novo com os dois pés", diz Fernanda Torres no anúncio da Havaianas, marca quase sinónimo da própria identidade brasileira.
Porém, a campanha publicitária está agora a agitar a política do Brasil, nomeadamente a Direita, que interpretou o anúncio como uma mensagem política, gerando críticas e apelos ao boicote à marca.
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Um dos políticos que mostrou a sua indignação nas redes sociais foi um dos filhos do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Num vídeo publicado no Instagram, Eduardo Bolsonaro, que mora nos Estados Unidos, atira para o lixo um par de Havaianas pretas com uma pequena bandeira do Brasil nas tiras. "Eu achava que isto aqui era um símbolo nacional", afirma. "Já vi muito gringo com essa bandeirinha do Brasil no pé. Só que eu me enganei: eles escolheram para ser a garota propaganda da sandália uma pessoa declaradamente de Esquerda. E ainda fala para você não começar o ano com o pé direito. Isso não foi por acaso, me desculpe. Então, o pé direito e o esquerdo estão no lixo".
Mas não foi o único. Políticos como os deputados Nikolas Ferreira e Rodrigo Valadares. "Havaianas, nem todo mundo agora vai usar", escreveu o primeiro no X (antigo Twitter). "Havaianas escolheu lado. A DIREITA escolhe o boicote", defendeu o segundo na mesma rede social.
Também infuenciadores ligados à Direita brasileira, como Thiago Asmar, que mais de dois milhões de seguidores no Instagram, reagiram à polémica: "Tô queimando o pé no asfalto, mas Havaianas nunca mais!".
Segundo o jornal brasileiro "O Globo", as ações da marca registaram perdas de 200 milhões de reais (equivalente a 30,6 milhões de euros) na Bolsa após a polémica com o anúncio. Porém, na terça-feira, a Alpargatas, empresa dona da Havaianas, que tem dez mil funcionários e vendeu 226,6 milhões de pares de sandálias em 2024, alavancou o valor de mercado com as ações a subirem 455 milhões de reais (cerca de 70 milhões de euros).
Crise diplomática em Roma
No entanto, a controvérsia está longe de terminar, depois de ter tomado novas proporções quando o ator brasileiro e humorista de "Porta dos Fundos" Fábio Porchat publicou, na terça-feira, um vídeo onde ironiza políticos de direita gravado na Embaixada do Brasil em Roma, em Itália. Na gravação, o humorista interpreta um gestor de crise, que aparece a falar com a atriz ao telefone, sugerindo gestos ao campo político de direita como forma de amenizar as críticas e o boicote à marca.
Nas redes sociais, o senador Rogério Marinho, líder da oposição no Senado, afirmou que vai pedir à chancelaria brasileira um esclarecimento, além do apuramento de responsabilidade. O parlamentar também criticou o uso do espaço diplomático brasileiro para "humor político", afirmando que a ação configura "uso indevido do Estado". "Instalações governamentais não servem para militância nem para proteger aliados", escreveu no X.
Em comunicado, o embaixador brasileiro em Roma, Renato Mosca de Souza, garantiu que Porchat era o seu convidado pessoal para a celebração da noite de Natal, mas que a gravação do vídeo na sede da embaixada foi feita "sem o seu conhecimento e autorização". O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil também assegurou, numa nota, que "a estadia do hóspede não implicou gastos públicos, já que as despesas de convidados pessoais do embaixador são custeadas pelo próprio chefe da Missão Diplomática".

