Uma vigília pela Palestina está a decorrer desde as 9 horas da manhã desta quarta-feira, junto à Câmara do Porto. A ação critica a "passividade" do Governo português perante a fome extrema que atinge Gaza, exigindo ações concretas da comunidade internacional contra as ações de Israel no enclave.
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Peter Gerken, turista, espanta-se perante 70 bonecos enfaixados e cobertos de tinta vermelha - uma instalação que representa a morte de milhares de crianças em Gaza - plantados aos pés da estátua de Garrett, em frente à Câmara do Porto. "Aqui podem falar livremente?", questiona o professor de história, contando que na Alemanha, com um novo Governo “mais à Direita”, professores, jornalistas e cidadãos estão condicionados nas críticas a Israel. “Por causa do genocídio que fizemos, estamos a deixar que aconteça um novo”.
É um dos turistas a quem a ação da Palestina Livre, uma vigília de 24 horas na Invicta (que só vai poder durar até às 00.30 horas de quinta-feira por imposição legal) captou a atenção. No decorrer do dia, vai haver poesia, um “panelão” (bater de tachos), um microfone aberto para quem queira falar. Desde as 9 horas da manhã desta quarta-feira, que há bandeiras da Palestina erguidas junto aos Aliados, e cartazes com críticas ao colonialismo de Telavive.
“É obsceno o que estamos a viver, não há justificação para o que estamos a viver, um genocídio que é o mais fotografado, mais documentado”, afirma João Pedro Krug, da Palestina Livre, movimento que organizou a vigília. Conta que ontem, terça-feira, recebeu uma mensagem dos contactos que ainda mantém em Gaza e onde se lia apenas "não se esqueçam de nós". Mas nem todos os que passam deixam elogios, também houve quem tivesse tecido críticas à iniciativa, "sobretudo estrangeiros".
Morrer é melhor que subsistir
O protesto acontece horas depois de a Organização das Nações Unidas ter dado conta de que mais de mil pessoas tinham sido mortas enquanto esperavam por ajuda, nomeadamente comida, junto a postos de abastecimento em Gaza. Lamentando que haja "pessoas que preferem a morte a subsistir", que haja “miúdos de 13 anos feridos a pedirem nos hospitais para morrerem porque sentem que toda a família morreu”, João Krug, fotógrafo de profissão, atira-se à falta de uma resposta política portuguesa cabal que condene e ajude a travar os intentos israelitas.
"É impossível conviver pacificamente com esta realidade, sobretudo pertencendo a uma nação cujo Governo continua a ter uma posição de cumplicidade declarada, a manter relações diplomáticas e económicas que viabilizam a violência exercida contra o povo palestiniano, a sua limpeza étnica, a ocupação ilegal de territórios", critica.
Portugal tem a liberdade "nas veias"
Ana LLorenta, turista de Madrid, segue o labirinto de “corpos”, fotografa, emociona-se. "Impressionou-me a ação reivindicativa, e profundamente poética. Temos de construir todos um mundo melhor e oxalá não tivéssemos que fazer ações deste tipo. Se passas por isto e ficas indiferente, algo estamos a fazer mal, o silêncio é uma forma de viabilizar esse genocídio, nomeadamente o que existe por parte dos EUA". A diretora de publicações da Companhia de Teatro Clássico da capital espanhola viu o protesto enquanto aguardava o início de uma excursão para conhecer o Porto. "Portugal é um mistério insondável, por ter sempre um compromisso político, tendo nas suas veias o 25 de Abril, que vos faz sempre muito livres. Espanha deveria ter tido isso em conta durante os vossos 40 anos de ditadura cruel, e nunca o fizemos", alude, lembrando que também Portugal viveu oprimido, e que o país vizinho falhou em prestar-lhe apoio.
Além dos bonecos, com os quais algumas crianças alheias ao seu significado procuram brincar, há tachos, vazios, pousados no chão, uns sapatos, uma caixa de leite em pó vazia. Numa dessas mensagens gordas lê-se: "14 mil bebés em risco de morrerem à fome". Isabel Oliveira pousou um desses tachos, identifica-se com o apelo. “Atuar contra o genocídio. É incrível a quantidade de pessoas que estão a morrer à fome, bebés que estão sem leite, famintos. É inaceitável esta passividade. Esta vigília é um apelo à sociedade civil, não podemos aceitar isto”, afirma, acreditando que “tudo pode mudar amanhã, se as pessoas sancionarem Israel, punirem Israel”, lembrando a mobilização global que existiu para a libertação Timor-Leste ou contra o apartheid na África do Sul.
Desde o dia 12 de outubro de 2023 que, entre as 21 e as 23 horas, se realiza, diariamente, uma vigília pela libertação da Palestina em frente à Câmara do Porto.