O Governo provisório do Quirguistão acusa círculos próximos do deposto presidente, Kurmanbek Bakiev, de estarem por detrás da explosão de violência no Sul do país. E as autoridades admitem que o número de vítimas será muito superior aos números oficiais.
Corpo do artigo
“De acordo com os dados dos serviços secretos, o financiamento destas acções centra-se em torno dos Bakiev”, declarou o vice-primeiro-ministro Almazbek Atambaev, que classificou a fomentação de confronto violentos entre uzbeques e quirguizes de “segunda tentativa para depor o governo provisório”.
Atambaev confirmou que o seu governo vai requerer a extradição de Maxim Bakiev, filho do presidente deposto, detido em Londres devido a um mandado de captura internacional, sob a acusação de lavagem de dinheiro.
Entretanto, o chefe da polícia da província de Djalal-Abad afirmou que tinha sido detido um “conhecido político”, suspeito de organizar “desordens entre etnias”. Supõe-se que se trate de Paizullabek Rakhmanov, uma figura próxima da família Bakiev.
Por seu lado, Kurmanbek Bakiev, do seu exílio na Bielorrússia, garantiu que não tinha nenhuma ligação aos acontecimentos dos últimos dias.
Dos confrontos entre quiguízes e uzbeques que se desencadearam a partir do dia 11, inicialmente na cidade de Och e que se estenderam a Djalal-Abad, resultaram 171 mortos e mais de 1700 feridos, segundo os dados oficiais do Ministério da Saúde.
No entanto, testemunhas oculares afirmam que as vítimas mortais são centenas e que esse número poderia chegar perto dos dois mil.
“Infelizmente, é cedo para afirmar que morreram 171”, confirmou a presidente do Governo provisório quirguize, Roza Otunbaeva, adiantando que para chegar ao número real de vítimas mortais “vai ser preciso multiplicar várias vezes”.
Segundo as autoridades, a onda de violência está a diminuir e as forças governamentais controlam as principais cidades. No entanto, a quantidade de refugiados, que abandonou as suas casas em busca de segurança no vizinho Uzbequistão ronda, provavelmente, os cem mil, e vai ser preciso evitar a catástrofe humanitária.
Apesar dos apelos do Governo quirguize para o envio de uma força de paz, os países da “organização do acordo de defesa colectiva”, que inclui vários países da ex-URSS, continuam a prometer só “ajuda técnica”.
Haverá já 83 mil uzbeques sem casa nem terra
São já 83 mil os uzbeques que, segundo os números oficiais do Ministério das Situações de Emergência do Uzbequistão, escapando à onda de violência que assola o Sul do Quirguistão, atravessaram a fronteira. O Governo de Tachkent viu-se na necessidade de limitar a passagem dos refugiados, por não haverem condições para acolher mais pessoas.
De acordo com o vice-primeiro-ministro do Uzbequistão, Abdulla Aripov, actualmente podem passar só feridos, mulheres e crianças. Grande parte dos que chegam à província uzbeca de Andijan, precisam de assistência médica. Em Andijan foram mais de sete mil os necessitados de cuidados médicos.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha lançou um apelo à comunidade mundial para destinar 10 milhões de francos suíços (7,3 milhões de euros) para acudir às necessidades imediatas dos refugiados uzbeques. De acordo com as estimativas do Comité, poderão assim ajudar cerca de 100 mil pessoas.
Anteriormente, a Cruz Vermelha enviou um avião com material médico de emergência. Está previsto fazer chegar a Och mais 12, para poder melhorar o nível de assistência médica. Do Sul do Quirguistão foram evacuados mais de mil cidadãos estrangeiros. A maior parte são de países asiáticos, mas, também, se contam entre os que tiveram que deixar à pressa aquele território 92 cidadãos da União Europeia.
Entretanto em Och e Djalal-Abad, o Governo começou a organizar cozinhas de campo para alimentar os que perderam os seus haveres Para esse fim foram já enviados 40 toneladas de alimentos. Em Och, quase todas as lojas de produtos alimentares foram saqueadas e os alimentos têm de ser levados de outras províncias. Também neste sector, o Quirguistão tem esperanças de que cheguem as ajudas internacionais.