Vladimir Putin foi eleito presidente pela primeira vez há 20 anos. Com tiques ditatoriais, reergueu o país após o colapso da União.
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Eleito pela primeira vez presidente da Rússia há precisamente duas décadas, Vladimir Putin é encarado como um mestre num xadrez imperialista que inclui Estados Unidos e China, estatuto a que o tempo vem dando razão.
É, para grande parte da população russa, a figura que estabilizou o país após a queda da União Soviética, nos anos 90, e que não se curva aos interesses ocidentais. Não é um orador exímio nem um líder carismático, mas transmite a ideia de ser capaz de resgatar a autoridade que a Mãe Rússia perdeu.
Ex-espião dos serviços secretos soviéticos (KGB) e centralizador, Putin, de perfil discreto, mas, ao mesmo tempo, incisivo, é, nas palavras do já desaparecido senador norte-americano John McCain, um "assassino e um agente do KGB". Já para Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, é "um líder bem melhor" do que Barack Obama, o antecessor do republicano na Casa Branca.
Filho de uma operária e de um soldado da Marinha que lutou na Segunda Guerra Mundial, Putin, nascido em 1952, cresceu num subúrbio de São Petersburgo, criado como filho único, uma vez que os irmãos morreram ainda crianças.
Aos 24 anos, entrou para o KGB, logo após concluir o curso de Direito na Universidade de Leninegrado (atual São Petersburgo). Por dominar o alemão, foi colocado na Alemanha Oriental, onde assistiu à queda do Muro de Berlim, em 1989. Permaneceu nos serviços secretos até 1991.
extremamente leal, dizem
Voltou a São Petersburgo e, três anos depois, tornou-se vice-presidente da Câmara. Por pouco tempo. Em 1996, está na capital, Moscovo. Passa a integrar a FSP - agência de informação que substituiu o KGB após o fim da União Soviética -, da qual viria a ser diretor.
Seguir-se-ia o cargo de secretário do Conselho de Segurança e, em 1999, foi escolhido para primeiro-ministro do então presidente, Boris Ieltsin, o primeiro eleito democraticamente depois do desmembramento soviético.
Em 31 de dezembro, no tradicional discurso presidencial na passagem de ano, Ieltsin, inesperadamente, renunciou, passando a chefia de Estado para Putin e marcando eleições para março. O interino vencê-las-ia, com 53% dos votos.
Putin tem fama de ser extremamente leal com os amigos. Quando assumiu a Presidência pela primeira vez, perguntaram-lhe qual era o seu colega mais digno de confiança. Citou cinco pessoas e em 2017 todas elas ainda ocupavam altos cargos governamentais. As que saíram fizeram-no por opção.
No fim do segundo mandato consecutivo, em 2008, e como a Constituição não permitia três seguidos - algo que Putin já está a tratar de alterar; falta apenas o referendo à alteração constitucional, adiado pela pandemia de Covid-19 -, voltou a ser primeiro-ministro e incumbiu Dmitry Medvedev de lhe guardar a Presidência até 2012. Na prática, era Putin quem mandava no país.
Há oito anos, voltou. E, pelos vistos, tão cedo não sai. O que até não será estranho. Os líderes autoritários costumam ser um sucesso na Rússia. Uma tradição com génese no período dos czares, que passou pela Revolução Russa e que tem Putin como paladino.