Von der Leyen fala em "grande convulsão": ajuda humanitária divide União Europeia
Conselho Europeu, que promete continuar a apoiar reconstrução ucraniana, reúne-se em busca de consenso para pedir “pausas” nos ataques a Gaza.
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Após quase três semanas desde a incursão do Hamas em Israel e a rápida retaliação israelita na Faixa de Gaza, os líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) reuniram-se esta quinta-feira para alcançar uma posição comum em relação à crise humanitária no território palestiniano.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, salientou a importância do bloco demonstrar união e voltou a condenar o “violento ataque terrorista” do Hamas. O belga referiu ainda que “os civis devem ser protegidos, sempre e em todo o lado”.
Ursula von der Leyen afirmou que o fórum ocorre num momento de “grande convulsão”. A presidente da Comissão Europeia mencionou diversos “desafios” – como a guerra na Ucrânia, o conflito entre Israel e Hamas, e a crise migratória – para apelar a uma revisão do orçamento da UE.
Retórica ecoada pela presidente do Parlamento Europeu, citada pelo jornal britânico “The Guardian”, que disse que o atual plano de gastos foi feito num período diferente e que as prioridades evoluíram. Roberta Metsola reiterou o “respeito pelo Direito Internacional”, aludindo às “muitas vidas inocentes perdidas” e às “muitas crianças tornadas órfãs” em Gaza. A maltesa alertou ainda para “uma perigosa escalada regional do conflito”.
Dificuldade em texto
Uma das principais conclusões esperadas no encontro era a definição de uma declaração conjunta a pedir a suspensão dos ataques em Gaza para a entrada de ajuda humanitária. O problema foi chegar a um texto que agradasse a todos. Mesmo que Portugal, Espanha e Irlanda preferissem um cessar-fogo, o termo utilizado num dos rascunhos foi “pausa humanitária”. Posteriormente, trocou-se por “pausas”, no plural.
Áustria, República Checa, Hungria e Alemanha querem evitar a ideia de uma única e longa suspensão dos ataques, temendo uma recuperação do Hamas e o impedimento do direito de autodefesa israelita. O chanceler alemão, Olaf Scholz, chegou a expressar confiança de que por Israel ser “um país democrático”, o Exército hebraico iria "respeitar o Direito internacional”.
Numa altura em que o número de bombardeamentos cresce, o atraso para aprovar uma declaração comum gerou críticas do presidente turco. “Quantas mais crianças terão de morrer antes que a Comissão Europeia possa pedir um cessar-fogo?”, indagou Recep Tayyip Erdogan.
O primeiro-ministro português desvalorizou as divergências internas do bloco. “Não nos vamos prender à terminologia. O que é essencial é que se criem condições para que a ajuda humanitária possa existir”, destacou António Costa, citado pela agência Lusa. O chefe de Governo, no entanto, “reconhece, obviamente, o direito de Israel responder militarmente de forma a destruir a capacidade ofensiva do Hamas”.
O presidente do Chipre, Nikos Christodoulides, revelou que discutiu com o homólogo egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o envio de ajuda através do mar. A nova rota partiria do porto da cidade cipriota de Limassol.
Guerra e imigração
Outra meta deste Conselho é reforçar o apoio a Kiev, com um debate sobre o plano de reconstrução do país invadido. “Isso [o conflito Israel-Hamas] não deve desviar a nossa atenção da Ucrânia, é exatamente isso que Putin quer”, declarou Metsola. “Não temos direito a fatiga da guerra”, disse o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda. A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, criticou o posicionamento da Hungria, que considera ter-se tornado “um problema”.
O isolado Viktor Orbán, que recentemente se encontrou com o presidente russo, tem agora a companhia do eslovaco Robert Fico, que participa no evento um dia após tomar posse. O tema da imigração, que será abordado nas discussões desta sexta-feira, já foi antecipado pelo primeiro-ministro húngaro, que afirmou que “qualquer um que apoia a migração apoia também o terrorismo”