A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse querer "ouvir todas as pessoas", na cerimónia de assinatura da declaração que lança a Conferência sobre o Futuro da Europa, no Parlamento Europeu.
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"Quando se trata do futuro da Europa não há sonho mais audacioso", disse, salientando querer "ouvir todas as pessoas, todos os cidadãos".
"Todos nós temos sonhos quando pensamos no futuro da Europa", acrescentou Ursula von der Leyen, sublinhando que o seu é o de uma Europa "líder num mundo de transição digital", que não deixe ninguém para trás, que defenda uma democracia "resiliente frente às informações falsas e à desinformação" e ainda "com uma voz forte na defesa da liberdade".
Ursula von der Leyen acrescentou também que esta é a altura certa para o debate sobre o futuro da Europa: "É precisamente num tempo de crise que vemos onde a Europa funciona e onde pode ser melhorada".
Está em causa o nosso futuro e o futuro da nossa democracia
O presidente do Parlamento Europeu (PE), David Sassoli, defendeu que a Conferência sobre o Futuro da Europa irá permitir "redescobrir a alma do projeto europeu", qualificando a assinatura da sua declaração de "dia especial para a democracia europeia".
"Está em causa o nosso futuro e o futuro da nossa democracia, agora temos a oportunidade de redescobrir a alma do projeto europeu (...) devemos ouvir os cidadãos, construir a Europa de amanhã, para que seja verdadeiramente a Europa de todos", sublinhou.
Anunciando que a conferência terá início no dia da Europa, a 9 de maio, Sassoli defendeu que será uma "oportunidade única" para "todos os cidadãos europeus" porque permitirá "forjar o futuro" da União Europeia.
"Devemos abrir esta empreitada. Neste processo, queremos colocar no cerne os cidadãos, a sociedade civil, mas também os parlamentos nacionais, as regiões, os atores locais, sociais, o mundo académico, os jovens... Esta conferência pretende ser um novo fórum de debate em que todos os cidadãos europeus terão voto na matéria porque estamos todos preocupados com o futuro da UE", afirmou.
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Assim, e realçando que "uma abordagem única e solidária" é a "única maneira" que a UE tem de "progredir" e responder às "expectativas cada vez mais numerosas" dos cidadãos, Sassoli defendeu que é "fundamental" a UE dotar-se dos "instrumentos ideais" que lhe permitam enfrentar "os desafios do futuro".
"A Europa, para estar em condições de enfrentar as questões globais, deverá adaptar-se perante um mundo em mudança. Para tal, deverá dotar-se dos meios para que seja mais eficiente, mais democrática, mais flexível, mais ágil, mais resiliente", apontou.
Nesse âmbito, o presidente do PE salientou que a Conferência servirá para "retirar os ensinamentos" da atual pandemia de covid-19 e para "reforçar a democracia" europeia.
"A democracia é frágil, como ficou patente no mês de janeiro em Washington e, por isso, deve ser defendida, devemos proteger os bens comuns, defender a participação e a transparência dos cidadãos na vida democrática. Devemos renovar, mais do que nunca, o nosso pacto democrático, reatar os laços com a nossa sociedade através da criação de um verdadeiro espaço público europeu", sublinhou.
A cerimónia, que teve lugar no Parlamento Europeu às 13 horas locais (12 horas em Portugal continental), contou com os presidentes da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do Parlamento, David Sassoli, e do Conselho da União Europeia (UE) - neste semestre, o primeiro-ministro português, António Costa -, que serão também os três copresidentes da Conferência, de acordo com a solução de governação proposta pela presidência portuguesa, que permitiu desbloquear um longo impasse em torno do evento.
Lançamento da Conferência é "mensagem de confiança", diz Costa
Por sua vez, o primeiro-ministro, António Costa, disse que a convocação da Conferência sobre o Futuro da Europa constitui "uma mensagem de confiança e de esperança" num momento de "incerteza, angústia e medo".
Intervindo, na condição de presidente em exercício do Conselho da União Europeia, o chefe de Governo sublinhou também que este evento é dirigido aos cidadãos, pelo que "esta não pode uma conferência das instituições sobre as instituições, tem de ser uma conferência dos cidadãos".
"Quando, por toda a Europa, enfrentamos uma pandemia que gerou a maior crise económica e social desde a II Grande Guerra, quando, nos nossos hospitais, os profissionais de saúde lutam afincadamente para salvar vidas, quando estamos num contra-relógio para a vacinação, quando milhões de trabalhadores perdem o seu emprego e milhares de empresas enfrentam o risco de falência, quando a incerteza, a angústia e o medo marcam o nosso presente coletivo, a convocação desta conferência é uma mensagem de confiança e de esperança no futuro que dirigimos a todos os europeus", declarou.
Congratulando-se por ter sido "possível ultrapassar o impasse" que paralisava a celebração desta conferência - que deveria ter tido início em maio de 2000, mas foi adiada devido à pandemia da covid-19 e a diferentes pontos de vista das instituições sobre o modelo do fórum -, António Costa reconheceu que há várias visões sobre o que deve ser o futuro da Europa, mas considerou que tal só justifica ainda mais a realização deste evento.
"Sabemos que não temos todos a mesma visão sobre a Europa do futuro nem sobre o futuro da Europa, mas é precisamente por isso que a conferência sobre o futuro da Europa é um momento decisivo para podemos discutir, sem tabus mas com frontalidade, a diversidade das nossas visões. Só assim poderemos superar as divisões e recuperar o que nos une, e reforçar o que nos une, como sempre aconteceu ao longo destes quase 64 anos desde a assinatura do Tratado de Roma", disse.
Segundo o primeiro-ministro português, "a União precisa de se reforçar com a força da cidadania" e, "por isso, esta não pode uma conferência das instituições sobre as instituições, tem de ser uma conferência dos cidadãos europeus, sobre o que querem e com querem o futuro da nossa União, uma conferência sobre as questões políticas que verdadeiramente preocupam os europeus".