Zelensky responde a notícias e reafirma que não cede territórios no Donbass à Rússia
Declarações de presidente da Ucrânia, nesta terça-feira, surgem após jornal britânico avançar que Kiev terá sinalizado a aliados que aceitaria congelar linhas de frente e deixaria regiões ucranianas sob controlo de Moscovo.
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O presidente ucraniano rejeitou ceder territórios à Rússia, após se ter especulado que Volodymyr Zelensky teria mudado de posição e estaria disposto a realizar trocas territoriais. Na frente de guerra, a esperança é pouca enquanto as tropas russas continuam a ganhar terreno.
"Não nos vamos retirar do Donbass [Donetsk e Lugansk]. Se nos retirarmos hoje do Donbass - das nossas fortificações, do nosso terreno, das alturas que controlamos - abriremos claramente uma cabeça de ponte para os russos prepararem uma ofensiva", afirmou o chefe de Estado de Kiev.
O jornal britânico "The Telegraph", citando fontes do Ocidente, avançara que o Zelensky terá dito a aliados europeus que está aberto a conceder os territórios já sob controlo russo, rejeitando entregar mais terras. Isso significaria aceitar que Moscovo ficasse com toda a Crimeia e Lugansk, anexadas pela Rússia em 2014 e 2022, respetivamente. Este congelamento da linha de frente deixaria os territórios de Kherson, Zaporíjia e Donetsk divididos entre russos e ucranianos, apesar de o Kremlin reivindicar tais regiões na totalidade.
No sábado, Zelensky mencionara a Constituição ucraniana para justificar a recusa - e foi criticado por Trump. A aparente mudança de posição, desmentida depois pelo próprio presidente da Ucrânia, poderia ser uma tentativa de última hora, especulou o periódico do Reino Unido, de incluir o país na cimeira russo-americana de 15 de agosto. Kiev estará presente, todavia, apenas na videoconferência de quarta-feira organizada pela Alemanha e que contará com parceiros europeus, a NATO e os EUA. Após o encontro entre Trump e Putin, ucranianos e o Velho Continente serão informados prontamente dos resultados do diálogo.
Desde o anúncio da reunião de alto nível entre Washington e Moscovo, Bruxelas tem exercido pressão a favor da Kiev, tendo os chefes da diplomacia do estados-membros do bloco reiterado esta terça-feira "o direito inerente da Ucrânia de escolher o seu próprio destino". "Uma paz justa e duradoura que traga estabilidade e segurança deve respeitar o Direito Internacional, incluindo os princípios da independência, soberania, integridade territorial e que as fronteiras internacionais não devem ser alteradas pela força", completaram. A Hungria, como em outras vezes, não se associou à declaração, com o primeiro-ministro Viktor Orbán a propor uma cimeira entre a Rússia e a União Europeia.
Avanços russos recentes
Os militares russos têm feito rápidos avanços nos últimos dias, com as Forças Armadas ucranianas a reportarem uma "situação difícil e dinâmica" no terreno, com batalhas "pesadas". Segundo um mapa publicado pelo monitor DeepState, com laços com Kiev, as tropas de Moscovo progrediram cerca de dez quilómetros em dois dias na frente Leste, abrindo um corredor estreito perto da cidade de Dobropillia, em Donetsk.
Zelesnky disse ter recebido "um relatório do comando militar e dos serviços de informação sobre o que Putin espera e para o que se está realmente a preparar, incluindo preparativos militares". "Definitivamente não se está a preparar para um cessar-fogo ou para o fim da guerra. Putin está apenas determinado a apresentar um encontro com os EUA como vitória pessoal e depois continuar a agir exatamente como antes, aplicando a mesma pressão sobre a Ucrânia", acrescentou.
Soldados ucranianos ouvidos pela agência France-Presse partilham o pessimismo em relação aos planos russos, com Dmitry, de 22 anos, a dizer que "trocar territórios não mudará nada", pois "isto dará à Rússia uma hipótese de se reagrupar e não cometer os erros que cometeu no início de 2022". Vyacheslav não vê com otimismo os eventuais resultados da reunião entre Trump e Putin. "Agora não há esperança, mas há alguma expectativa", pontuou o militar de 36 anos.
Cimeira Trump-Putin
Anchorage escolhida
A Casa Branca confirmou esta terça-feira que a reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin na sexta-feira será na cidade de Anchorage, no Alasca. Em antecipação, os chefes das diplomacias norte-americana, Marco Rubio, e russa, Sergei Lavrov, tiveram uma conversa telefónica, com a Rússia a reafirmar a intenção de ter um encontro bem-sucedido.
China saúda reunião
A China saudou os contactos entre os EUA e a Rússia e disse esperar a participação de "todas as partes envolvidas" em conversações no momento oportuno. Pequim quer "o mais rapidamente possível" um acordo "justo, duradouro e vinculativo".