Os dois acidentes de avião fatais envolvendo o modelo 737 Max da norte-americana Boeing, que provocaram a morte a 346 pessoas, deveram-se, em parte, à indisponibilidade do fabricante em fornecer detalhes técnicos, concluiu uma investigação do Congresso norte-americano.
O relatório de 250 páginas, datado de setembro de 2020, aponta o dedo tanto à Boeing, acusada de manter uma "cultura de ocultação" de informação, como às falhas do regulador, a Autoridade Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês).
"A Boeing falhou no projeto e desenvolvimento do Max e a FAA falhou na supervisão da Boeing e na certificação da aeronave", concluiu a investigação de 18 meses, que detetou uma série de erros no projeto do aparelho, a par de uma relação excessivamente próxima entre a Boeing e o regulador federal, que terá comprometido o processo de obtenção da certificação de segurança.
Os acidentes "foram o culminar terrível de uma série de pressupostos técnicos errados por parte dos engenheiros da Boeing, de uma falta de transparência por parte da administração da Boeing e de uma supervisão grosseiramente insuficiente da FAA", pode ler-se.
Sobre o fabricante, a investigação lamenta a "redução de custos (...) que comprometeu a segurança" de passageiros e tripulantes, "erros preocupantes de gestão" e a tendência para ocultar problemas com o aparelho, nomeadamente no que diz respeito a um sistema de segurança chave (MCAS), projetado para, de forma automática, contrariar a tendência do 737-Max de se inclinar para cima. O sistema em causa, responsabilizado por ambos os acidentes, foi ocultado dos manuais da tripulação e a Boeing tentou convencer os reguladores a não exigir o treino em simulador para os pilotos, o que incorreria em custos extras. Tudo isto aliou-se a "conflitos de interesses" do regulador, que terá "rejeitado" os próprios especialistas técnicos e de segurança "a mando da Boeing".
Boieng quer 737-Max melhorado no ar
A Boeing admite que "foram cometidos erros" e assegura que foram feitas "mudanças fundamentais" na empresa. Quer agora concentrar-se em colocar o 737-Max de volta no ar, com a garantia de que o projeto modificado será seguro. "Assim que a FAA e outros reguladores determinarem que o Max pode retornar ao serviço com segurança, será uma das aeronaves mais minuciosamente examinadas da história e temos total confiança em sua segurança", reagiu a companhia.
De acordo com a BBC, os reguladores da Europa e dos EUA estão relativamente perto de voltar a certificar o modelo. A FAA iniciou voos de teste em junho e a Agência para a Segurança da Aviação da União Europeia (EASA) iniciou um programa de testes no início deste mês, considerando que a autorização do regulador americano não significa por si só que o avião é considerado aeronavegável na Europa.
Por sua vez, a FAA diz que vai trabalhar com os legisladores para "implementar as melhorias" que o relatório identifica como necessárias.