A vontade do Papa Francisco em fazer alterações à prelatura da Opus Dei, que entraram em vigor nesta quinta-feira, já tinha sido expressa na nova Constituição Apostólica, "Praedicate Evangelium". No capítulo dedicado ao Dicastério para o Clero, Francisco atribuiu a este "ministério" da Santa Sé a competência sobre tudo o que respeita às designadas prelaturas pessoais, como é o caso da Opus Dei, aliás, única no Mundo.
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Agora, através da carta apostólica escrita em forma de motu proprio "Ad charisma tuendum" (em português, "Para tutelar o carisma"), documento com data de 14 de julho e em vigor há um dia, o Papa argentino elencou as novas normas, que vão substituir alguns artigos da Constituição Apostólica "Ut sit", de 1982. Da autoria de João Paulo II, essa constituição deu à Opus Dei a qualidade de prelatura pessoal. A organização, cuja designação significa "Obra de Deus", foi fundada em 1928 pelo padre espanhol Josemaría Escrivá de Balaguer, com a finalidade de colaborar na missão evangelizadora da Igreja Católica, e estendeu-se a Portugal em 1946.
Além de ter de responder perante o Dicastério para o Clero (refira-se, a propósito, que a Constituição de Francisco alterou a designação anterior das congregações para dicastérios), o responsável máximo da Opus Dei tem de apresentar relatórios anuais sobre o desenvolvimento do trabalho apostólico da prelatura.
Por outro lado, esse mesmo responsável deixa de poder ser nomeado bispo. "É necessária uma forma de governo baseada mais no carisma do que na autoridade hierárquica. Portanto, o prelado não será honrado com a ordem episcopal", refere, a este propósito, a carta apostólica. Francisco determina que o responsável passa a ter o título de "protonotário apostólico supranumerário" e que seja tratado por "reverendo monsenhor".
O Sumo Pontífice dá assim mais um passo na reforma da Cúria Romana pretendida pela Constituição Apostólica "Praedicate Evangelium" ("Pregai o Evangelho"), promulgada a 19 de março deste ano, dia em que se assinalaram os nove anos do seu pontificado. Em vigor desde junho, o texto foi elaborado com a ajuda de um inédito conselho consultivo de cardeais, representantes dos cinco continentes, e resulta de um trabalho de oito anos. Propõe uma Cúria mais atenta à vida da Igreja Católica no Mundo e à sociedade, rejeitando uma atenção exclusiva à gestão interna dos assuntos do Vaticano.
À frente da poderosa organização Opus Dei está, desde janeiro de 2017, Fernando Ocáriz. Nascido em Paris em 1944, no seio de uma família espanhola que se exilou em França para fugir à guerra civil do país vizinho (1936-1939), tem desempenhado funções de consultor em vários organismos da Cúria Romana, incluindo o Dicastério para a Doutrina da Fé.
A Opus Dei foi fundada em Madrid, capital espanhola, e foi aprovada pelo Papa Pio XII em 1950. Atualmente com sede em Roma, é uma organização composta essencialmente por leigos mas também por padres e seminaristas, em dezenas de países. Abriu as suas portas às mulheres em 1930.
Ao longo da história, tem sido criticada por muitos setores e até internamente. É uma estrutura muito conservadora, em particular na Europa e na América Latina. Uma das controvérsias que envolveram o nome da Opus Dei foi a canonização do seu fundador, em 2002, por João Paulo II. Falecido em Roma em 1975, aos 73 anos, Josemaría Escrivá Balaguer foi uma figura próxima da ditadura de Francisco Franco.
"A vontade do Papa de sublinhar agora a dimensão carismática da Obra convida-nos a reforçar o clima de família, de afeto e de confiança: o prelado deve ser um guia, mas sobretudo um pai", referiu Fernando Ocáriz numa carta dirigida a todos os membros da prelatura, a propósito das alterações promovidas por Francisco.
A prelatura pessoal é uma figura pastoral prevista desde o Concílio Vaticano II (1962-1965).