
Mata Hari foi executada há 100 anos. Tudo o que fez foi "por amor".
Na manhã de 15 de outubro de 1917, a mulher que encarnou a libertação da condição feminina - numa altura em que isso nem do domínio dos sonhos fazia parte - caía ao chão, crivada de balas, em Paris, França. Fora fuzilada. Margaretha Zelle ficou para a história. Por duas razões. Dançava como ninguém ousava. E sobreviveu sendo agente dupla. Duas coisas raras para uma mulher europeia na altura da I Guerra Mundial. Mas normais para Mata Hari, que fez sempre tudo "por amor". Tinha 41 anos.
Nascida a 7 de agosto de 1876, na Holanda, Mata Hari teria 27 anos quando chegou a Paris. Na bagagem, trazia um passado conturbado, um casamento infeliz com Rudolph MacLeod, oficial do Exército das Índias Orientais, 20 anos mais velho do que ela, e o nome - "mata hari", "o olho do dia", o "sol". Margaretha chegou à Cidade Luz para traçar um destino como verdadeira "femme fatale". Recém-divorciada e sem a filha, viu em Paris a oportunidade de se reinventar como dançarina exótica e de fazer fortuna.
Mata Hari instalou-se nos Champs Elysées e começou a percorrer os salões mais famosos de Paris e a conquistar o público com danças inspiradas na cultura indonésia, país onde vivera com MacLeod, destacado nas então Índias Orientais Holandesas. Anunciou--se como "nativa de Java" e hipnotizou audiências com movimentos orientais e o seu à-vontade com a nudez.
"Na Indonésia, aprendi as danças sagradas que dancei para inúmeros públicos. Infelizmente, sempre que o fiz, todas as minhas roupas caíram", confessa, numa carta que escreveu durante a sua prisão.
Tornou-se uma das mais cobiçadas dançarinas, mas, com a I Guerra Mundial a estalar, Margaretha voltou ao país natal, onde conheceu um diplomata alemão que lhe pagou todas as dívidas deixadas em França em troca de informações. Começou aqui aventura como agente H 21. E, provavelmente, o início do fim de Mata Hari.
A dançarina voltou a Paris e ofereceu os seus serviços à França, através de um oficial de contraespionagem. A unidade francesa, que já suspeitava da bailarina pelas suas movimentações entre generais e soldados, incumbiu Hari de diversas missões e manteve-a sob vigilância. E acabou por intercetar uma mensagem entre a agente H 21 e o Exército alemão, provando a verdadeira posição da agente. Foi detida em fevereiro de 1917 e executada em outubro.
Mata Hari, acusada pela justiça francesa de espionagem e de fornecer informações secretas à Alemanha, negou os crimes até ao fim. Nas cartas que escreveu do presídio, afirmou sempre que tudo o que fez "foi por amor".
