
Sylvester foi apanhado pelas câmaras a dar mimos a uma cria que toma como sua. É um chimpanzé macho alfa e, segundo os primatólogos que acompanham os seus passos, o mais provável é que viesse a cometer infanticídio. A situação surpreendeu os investigadores da Universidade de Brookes, em Oxford.
"Temi seriamente pela vida da cria", disse a primatóloga Marie Cibot-Chemin. O que é regra nesta espécie é que os machos matem as crias para assim poderem recuperar a oportunidade de engravidar de novo a mãe.
A raridade desta história tem ainda outro vértice. A mãe, que dá pelo nome de Mirinda, passeava a alguns metros de distância, muito tranquila, o que também não é nada comum. Mais ainda: dava atenção ao macho alfa.
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Os cientistas mantiveram-se atentos e vigilantes e, ao longo da manhã, as atenções mantinham-se. Sylvester não mudou de postura e foi acariciando a cria, de poucos dias, carregando-a ao colo para todo o lado para onde se deslocava.
A equipa ficou entretanto preocupada com o facto de Maria, nome que lhe atribuíram, não poder ser amamentada pelo macho. "Pensei que poderia morrer de fome se fosse mantida ao colo do macho", lembra a primatóloga.
No dia seguinte, verificaram que a cria continuava nos braços dos chimpanzé e este continuava a dar-lhe toda a atenção. Aí os investigadores começaram a supor que durante a tarde, e fora do alcance das câmaras, Sylvester terá devolvido Maria à mãe, para que esta a amamentasse.
Ao terceiro dia, o desfecho. Maria regressou de vez aos braços da mãe, Mirinda, e desde esse dia Sylvester não voltou a tocar na filha.
Uma das questões que o enredo coloca prende-se com o comportamento da mãe: como a conseguiu deixar ao colo do pai se corria riscos? O facto de ter de cuidar de outra filha ainda pequena acrescenta uma variável a considerar. Outro aspeto extra que foi considerado foi o facto de Mirinda estar com uma inflamação no peito, que a impedia de fornecer uma amamentação regular. Por isso, deverá ter sido mais condescendente com Sylvester, concluíram os investigadores.
Portanto, este comportamento animal pode traduzir uma necessidade de adaptação muito específica. Neste caso em particular, o macho podia também estar a querer conquistar simpatia futura da parte de Mirinda, para quando esta voltar a reunir condições para nova reprodução.
