
Maurice e a dona, Corinne Fesseau
Regis Duvignau/REUTERS
O galo Maurice, que se tornou num símbolo das tradições rurais em França depois de ter sido alvo de uma queixa por cantar "muito alto e cedo", vai poder continuar a cantar, na ilha de Oléron.
Destaque-se já a singularidade do caso aqui apresentado. Maurice é um galo. Como qualquer outro da espécie, canta ao raiar do primeiro sol. Maurice vive numa zona rural, na aldeia de Saint-Pierre-d'Oléron, na Gália moderna, onde moradores vindos da cidade se indignaram com a natureza cantante do animal. Descontentes com o cacarejar matinal e bem sonoro, levaram o galináceo a tribunal, na figura da proprietária.
O galinheiro onde Maurice vive localiza-se, segundo a imprensa francesa, a quatro metros da sala do casal queixoso, cuja residência fixa é uma zona urbana do centro de França, e que, às vezes, passa temporadas na aldeia, que vê o número de sete mil habitantes do inverno aumentar nos meses de calor.
Por cantar aparentemente muito alto e demasiado cedo para os ouvidos dos vizinhos, escreve o "Le Monde", o galo acabou arguido num processo sobre poluição sonora, que começou há dois meses e terminou esta quinta-feira com uma decisão judicial que pendeu para o lado do galo.
O insólito conflito, divulgado na imprensa do país e do mundo, deu lugar a uma audiência no dia 4 de julho, na qual o casal exigiu que o galo deixasse de cantar e pediu uma indemnização de 150 euros diários à proprietária de Maurice. Acontece que os vizinhos não só não vão ser indemnizados, como vão ter de pagar.
O Tribunal de Rochefort, oeste de França, considerou, nesta quinta-feira, que os queixosos não apresentaram evidências suficientes do alegado barulho excessivo feito por Maurice e, lembrando o óbvio - o animal vive num meio rural -, condenou-os ao pagamento de mil euros por danos causados à dona, Corinne Fesseau.
"Maurice ganhou e os queixosos vão ter de pagar mil euros à sua dona, por danos", disse à agência France Presse o advogado da mulher, Julien Papineau. A vitória, explicou, deve-se ao facto de, na lei francesa, ser necessário provar um incómodo, sendo que tal não aconteceu.
Depois do galo, os patos
O caso é singular mas não único.
Também em França, na comuna de Soustons, região da Nova Aquitânia, uma proprietária de aves foi a tribunal, na quarta-feira, por motivos semelhantes. Os cerca de 50 patos e gansos de que é proprietária estão acusados de emitirem um "barulho incessante e outras perturbações" causadas aos vizinhos, explicou à AFP Dominique Douthe, de 67 anos.
