O líder da Congregação Reformada dos Adventistas do 7.º Dia de Tendas (CRASDT), em Cabo Verde, Inácio Cunha, foi ouvido pela Polícia Judiciária e constituído arguido, tendo ficado sob Termo de Identidade e Residência.
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A informação foi avançada em conferência de imprensa por Amândio Brito, representante da igreja no que diz respeito a questões jurídicas e um dos membros que na semana passada divulgou publicamente "confissões" com detalhes da sua alegada participação em orgias, práticas de incesto e consumo de álcool e drogas e referências a violência e coação sobre os fiéis, maus tratos físicos e abusos às crianças num centro de acolhimento.
Participação em orgias, práticas de incesto e consumo de álcool e drogas e referências a violência e coação sobre os fiéis, maus tratos físicos e abusos às crianças
A audição de Inácio Cunha, autointitulado profeta da igreja por ele fundada em 2003, aconteceu no mesmo dia em que oito crianças e adolescentes que estavam no centro de acolhimento no bairro de Ponta d'Água foram retiradas da instituição e acolhidas no Centro de Emergência Infantil do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), na Praia.
"As oito crianças, seis do sexo masculino e duas do sexo feminino, têm idade compreendida entre os 7 e os 17 anos, e deverão ficar no centro até que o processo de investigação do Ministério Público seja concluído", referiu o Ministério da Família e Inclusão Social em comunicado.
O Ministério acrescenta que "as crianças estão bem, continuam com as atividades escolares normalmente e ser-lhes-ão assegurados todos os cuidados e o acompanhamento social e psicológico necessário".
Amândio Brito, juiz que anunciou a sua saída da magistratura judicial cabo-verdiana após as confissões, avançou que a decisão foi tomada pela secretaria da Polícia Judiciária, mas não foram avançadas detalhes sobre a acusação.
A CRASDT, que tem um total de 85 membros - 80 na Praia e 5 no Brasil - está a ser investigada pelo Ministério Público cabo-verdiano por suspeitas de "tortura e tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos, maus tratos a menor ou incapaz, maus tratos a cônjuge, sequestro, homicídio simples, calúnia e injúria".
Até ao momento, Inácio Cunha escusou-se a falar à comunicação social.
Amândio Brito indicou que além de terem levado as crianças, as autoridades cabo-verdianas apreenderem vários documentos, computadores portáteis e discos externos para serem analisados. Também avançou que o centro de acolhimento foi encerrado.
Amândio Brito disse que a igreja respeita a decisão judicial de retirar as crianças do centro de acolhimento e salientou que o ICCA "agiu bem", por se tratar de uma instituição de proteção das crianças e dos adolescentes.
Mas desmentiu as denúncias de alegados maus-tratos, abusos e castigos, dizendo que queixas do tipo existem há vários anos, já foram feitas várias investigações sobre disso e que não foi a primeira vez que a curadoria de menores esteve no centro.
O juiz considerou que se trata de rumores, mas assinalou que os responsáveis da igreja estão serenos e dispostos a prestar todas as informações para que se faça justiça neste caso.
A conferência de imprensa contou com a presença de vários membros da igreja, entre eles o procurador Vital Moeda, que após as confissões, pediu a sua exoneração do cargo, estando até agora proibido de prestar declarações à imprensa.
A conduta do procurador da República deveria ser analisada hoje numa reunião do Conselho Superior do Ministério Público cabo-verdiano.