A equipa portuguesa destacada no Chile enfrenta por estes dias um "fogo gigantesco" cujo combate é dificultado pela falta de acessos. Mas o chefe da missão garante que o "moral é elevado" e sublinha a gratidão que têm recebido da população.
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Santa Ana é o nome do principal incêndio florestal que está ativo nos arredores de Coronel, cidade da província de Concepción, na região de Biobío, no centro do Chile. Estas são também as coordenadas de localização da equipa portuguesa destacada para apoiar os chilenos no combate às chamas. Este grande fogo é na verdade "um complexo de incêndios que já conta mais de 130 mil hectares de área ardida", explica ao JN o comandante Mário Silvestre, chefe da missão portuguesa. "É uma reativação da passada sexta-feira", acrescenta. "É gigantesco, um flanco tem mais de cem quilómetros".
O regresso, em princípio, será dia 28. A missão foi prolongada
A Força Operacional Conjunta (Focon) que partiu de Portugal no passado dia 11 tinha esta sexta-feira como data de regresso, mas irá ficar mais tempo. "O regresso, em princípio, será dia 28. A missão foi prolongada, estava previsto terminar dia 24. Mas a confirmação depende da envolvente operacional em conformidade com a ajuda internacional" que está no Chile, adianta o comandante Mário Silvestre.
Os 144 elementos da equipa estão com "moral extremamente elevado, muito concentrados em ajudar o povo chileno a enfrentar este flagelo", garante. E em troca têm recebido a gratidão da população.
"Siiimmm"
"Estamos a ser extremamente bem acolhidos", sublinha o chefe da missão portuguesa, revelando alguns episódios que "têm tocado muito a equipa".
"Na terça-feira, estivemos a defender uma povoação e não perdemos nenhuma casa. Um miúdo com cerca de 10 anos veio junto a nós e perguntou-nos: "são de Portugal"? Respondemos "sim" e ele fez o movimento do Cristiano Ronaldo [quando festeja golos] e disse "siiiimmm","Ronaldo is the best" [Ronaldo é o melhor]. E toda a equipa se riu."
"Na semana passada, no incêndio Tomé, a população brindou-nos com uma refeição quente, montou mesas e toldos. Nós temos rações de combate e a população fez questão de nos preparar uma refeição" em sinal de agradecimento, recorda.
"Nas áreas de serviço onde paramos - foram oito horas de autocarro desde a capital, Santiago - o acolhimento foi fantástico. Quando nos veem, os carros param e as pessoas dão-nos fruta, barras energéticas, etc." conta ainda Mário Silvestre. "Um autarca aqui de uma cidade ofereceu-nos a cidadania se quisermos ficar cá!"
Gestos de reconhecimento pelo trabalho realizado, que "tem sido muito duro e exigente do ponto de vista físico", reconhece o chefe da missão.
Poucos acessos
Mário Silvestre dá conta que no Chile "o coberto vegetal é muito parecido com o Norte de Portugal, assim como a orografia", mas no caso concreto do incêndio de Santa Ana há "poucos caminhos" e "a complexidade está muito alicerçada na falta de mobilidade dos meios no terreno".
Balanço é negro: mais de 300 fogos ativos, 25 mortos, 2100 casas destruídas e 19 mil animais mortos, 451 mil hectares de área ardida
Os operacionais portugueses têm feito "combate indireto para retirar potencial de progressão do incêndio", como "abertura de caminhos com máquinas de rasto". São essencialmente "trabalhos de consolidação e rescaldo" mas "têm sido operações muito complexas", descreve o comandante português. "Não conhecemos os terrenos", por isso, "as equipas de planeamento fazem a análise, definem os procedimentos de segurança. Antes há um trabalho muito grande de planeamento estratégico: onde vamos, como vamos, onde paramos...".
E os dados recolhidos por drone são essenciais para este planeamento, nomeadamente para a intervenção dos meios aéreos. "Fazemos voos com drones de manhã e à noite e partilhamos os dados com as autoridades locais, assim como as nossas análises", disse ao JN.
Em Concepción, as "temperaturas rondam os 30 graus", tirando partido da localização "mais junto ao mar". O vento tem a particularidade de ser "diferente de manhã e à noite. Cerca das 15 horas roda para oeste e tem influência do mar, o que aumenta a velocidade e baixa a humidade", assim, o período da manhã "é mais favorável aos trabalhos de consolidação".
El agua es vital para combatir los #incendios.
- EU Humanitarian Aid | Latin America & Caribbean (@ECHO_LatAm) February 15, 2023
No siempre es de facil acceso: A menudo el interrumpe el camino.
Mientras lanzan desde el cielo, los bomberos despliegados en #Chile por la protección civil de la UE crean líneas de defensa para llegar al río pic.twitter.com/7nTn6tJaXR
Mário Silvestre destaca que o efetivo português de 144 elementos "é o maior dispositivo internacional" destacado no Chile "e com mais valências - médicas, analistas, equipas helitransportadas..."
Há aqui umas abelhas que gostam muito da equipa portuguesa
Acrescenta que todos estão bem "à exceção de umas picadas de abelhas. Há aqui umas abelhas que gostam muito da equipa portuguesa, mas temos uma equipa médica na missão". Todos estão "altamente motivados", conclui.
A Força Operacional Conjunta (Focon) de Portugal é constituída por 144 elementos da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), da Força Especial de Proteção Civil (FEPC) da ANEPC, da GNR, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), das corporações de bombeiros da região de Lisboa e Vale do Tejo e do INEM.
Espanha, Itália, França, Brasil, Equador, México, Argentina e Venezuela são outros países que também enviaram equipas para ajudar o Chile a enfrentar os incêndios que lavram desde o início do mês. O balanço é negro: há mais de 300 fogos ativos, 25 mortos, 2100 casas destruídas e 19 mil animais mortos. A área ardida ascende a 451 mil hectares.