Muito do que fazemos, comemos e vestimos aqui tem consequências lá longe. Um relatório elaborado por uma ONG que promove a conservação das florestas e ecossistemas revela que grandes marcas de chocolate estão a obter o óleo de palma que utilizam para fabricar os seus produtos a partir de plantações ilegais em áreas protegidas.
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De acordo com várias organizações de defesa do ambiente, a produção do óleo está diretamente relacionada com a desflorestação em algumas partes do mundo, e, por consequência, com a perda do habitat natural de várias espécies, principal causa do declínio da biodiversidade. Os orangotangos das ilhas de Bornéu e Sumatra, na Indonésia, que é o maior produtor de óleo de palma do mundo, conhecem bem essa realidade: estão à beira da extinção depois de as suas populações terem encolhido drasticamente nas últimas décadas, expõe um relatório da ONG Rainforest Action Network (RAN) divulgado em setembro.
Cremes para barrar à base de cacau e manteiga de amendoim, chocolates e outros doces contêm óleo de palma
Segundo o Centro Internacional de Investigação Florestal (CIFOR), citado pela agência Reuters, a ilha de Bornéu, dividida entre a Indonésia, a Malásia e o Brunei, perdeu 6,3 milhões de hectares de floresta entre 2000 e 2018. Quase 40% da perda é atribuída à produção do óleo. A intensa desflorestação decorre da necessidade de satisfazer a demanda da indústria local, que usa o óleo de palma como matéria-prima, e do resto do mundo, que se estima que consumirá, em 2020, um total de 84 milhões de toneladas do produto, segundo o documento da RAN, que promove a manutenção das florestas, seres vivos que nelas habitam e ecossistemas
A campanha contra o óleo de palma, usado na composição de vários alimentos, levou vários fabricantes a removerem-no dos seus produtos
Além disso, parte da produção de óleo de palma provém de plantações ilegais de áreas protegidas. O relatório reporta que grandes marcas como a Nestlé, a Kellogg's, a Mars e a Hershey têm obtido parte do óleo de palma que usam para o fabrico de bolachas, chocolates, cereais e outros snacks, a partir da Reserva de Vida Selvagem Rawa Singkil. Trata-se de uma área protegida do noroeste da ilha de Sumatra, que desde 1998 perdeu 20% da área devido ao desflorestamento provocado pelo cultivo do óleo de palma e a construção de canais de drenagem de turfa, um material orgânico com usos agrícolas. Além de abrigar uma população significativa de orangotangos, a reserva é casa para rinocerontes, elefantes e tigres de Sumatra, também criticamente ameaçados.
Para a elaboração do relatório, os ambientalistas foram para a floresta e entrevistaram os diferentes agentes que fazem parte da cadeia de produção. Perceberam que muitos dos fornecedores das grandes multinacionais do setor de alimentos não têm os sistemas básicos necessários para rastrear a proveniência das culturas e garantir que estas não são originárias de plantações ilegais.
Depois da publicação do relatório, algumas das marcas mencionadas garantiram que iriam verificar os dados relatados, mantendo o compromisso com práticas sustentáveis na produção de óleo de palma.