Os corpos de Serhiy, Maxym e Anastasia estão, desde 4 de março, num bunker da cidade de Bucha, nos arredores da capital ucraniana. O grupo foi entregar comida a um abrigo animal, mas, na viagem de regresso, cruzou-se com as tropas russas, que abriram fogo contra o carro onde seguia.
Corpo do artigo
14658741
A missão era nobre: atravessar a cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, para entregar comida a um abrigo animal. E foi cumprida. Na passada sexta-feira, 4 de março, os três amigos ucranianos, Serhiy Ustymenko, de 25 anos, Maxym Kuzmenko, de 28, e Anastasia Yalanska, de 26, encheram-se de coragem e percorreram as ruas de um dos pontos críticos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
É certo que a cidade está dominada pelas tropas russas, mas o grupo decidiu arriscar: Maxym até levava um gorro com um pompom, não havia como serem confundidos com militares. Depois de entregarem a comida - os animais também estão a sofrer severamente com os ataques, muitas vezes deixados à sua sorte pelos donos que tentam desesperadamente fugir - voltaram ao carro. Tinham combinado ir ao encontro dos pais de Serhiy.
Um som ensurdecedor interrompeu-lhes a viagem. E a vida. Quando o carro dos três amigos se aproximou da casa da família Ustymenko, um veículo russo (identificado por testemunhas como um veículo de combate), abriu fogo contra eles.
No fim dos disparos, o pai de Serhiy, Valeriy Ustymenko, correu na direção do filho e dos amigos, mas já estavam todos mortos. Limitou-se a levar os três corpos para o bunker onde se tem resguardado dos bombardeamentos constantes.
Tendo em conta o cenário de guerra - e a impossibilidade de realizar o funeral que a família e os amigos queriam - os cadáveres ainda lá estão, conta o jornal "The Kyiv Independent", que relata ainda a angústia de quem conhecia Serhiy, Maxym e Anastasia. "O carro era (obviamente) civil", afirmou Dmytro Zubkov, amigo de Maxym, defendendo que não havia como os russos não saberem que estavam a atingir civis.