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Preocupada com o agravamento da pobreza na pandemia, Igreja promove encontro para discutir como a combater.
"Não se deve, sequer, questionar a ajuda económica aos mais pobres. É científico e está provado que para evitar a pobreza e para quebrar ciclos de pobreza, é preciso ajudar financeiramente as famílias", disse, ao JN, Joana Silva, economista e membro da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP). Este organismo da Igreja Católica organiza hoje, em Lisboa e com transmissão na página de Facebook da CNJP, uma conferência sobre os "Pobres, pobreza e desigualdade", com particular atenção ao impacto da pandemia.
"Um dos grandes problemas da atualidade é não só o elevado nível da pobreza, mas também o aumento que teve nos anos recentes, com a pandemia", referiu ainda a economista e docente na Universidade Católica, que trabalhou vários anos no Banco Mundial. "Muitas pessoas que não eram pobres tornaram-se pobres durante a pandemia e muitas mais estão numa situação de tal forma vulnerável, que qualquer imprevisto a pode colocar na pobreza", acrescentou Joana Silva. O risco de pobreza em Portugal aumentou para 18,4% em 2020, uma subida de 2,2 pontos percentuais relativamente ao ano anterior, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
"Não são preguiçosos"
"Em Portugal, há uma franja grande da população que tem rendimentos muito próximos da linha de pobreza", refere. E continua: "São pessoas que trabalham, que têm um ou mais empregos mas que, mesmo assim, não conseguem fazer face às despesas".
D. José Ornelas, bispo de Setúbal, Pedro Vaz Patto, presidente da CNJP, e Carlos Farinha Rodrigues, economista e especialista em pobreza e desigualdades, são outros dos participantes na conferencia que vai debater como combater a pobreza.
"Ninguém gosta de ser pobre e ninguém é pobre por escolha", afirmou Joana Silva. "Contrariamente ao que, por vezes, ouvimos dizer, os pobres não são preguiçosos. Eles trabalham e a maioria trabalha muito, mas é difícil ter sucesso na escola ou no emprego quando temos que estar a pensar onde arranjar comida para o jantar. Com fome ninguém trabalha bem", afirmou".
Com a pandemia, a situação dos jovens sofreu também um revés, dificultando a entrada no mercado de trabalho. Para além da implementação de programas, a economista defende a sua avaliação no terreno e consequências a longo prazo. "Há programas que ajudam a financiar creches, mas se as creches não forem boas, não educarem as crianças, deverá ser avaliado se o apoio deve ou não continuar", finalizou Joana Silva.
