Manuel Alegre, militante histórico do PS, apoia a candidatura presidencial de Ana Gomes pela "coragem" e "coerência" da socialista. Ao JN, admite ter gostado do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, mas avisa que as eleições não são uma "coroação".
"Muitas pessoas dizem que a dra. Ana Gomes incomoda, mas é preciso que alguém incomode os interesses instalados", a "falta de transparência" e a "promiscuidade entre política e negócios", considera Manuel Alegre.
O antigo candidato nas presidenciais de 2006 e 2011 admite que esse não é o papel principal de um chefe de Estado. No entanto, sublinha que o percurso político de Ana Gomes faz dela uma boa candidata a Belém.
Em concreto, Alegre elogia a socialista "pela sua coragem e por ser uma pessoa coerente, quer na questão de Timor quer como eurodeputada". Ao jornal "Público", também sustentou que a candidata tem condições para "enfrentar o populismo e a extrema-direita" e "fortalecer" o Estado Social.
O histórico do PS revelou ao JN que já tinha decidido apoiar Ana Gomes "há muito tempo", mas preferiu anunciar o apoio depois da reunião da Comissão Nacional do PS, que ocorreu no último sábado. Nessa ocasião, o partido decidiu dar liberdade de voto aos militantes e simpatizantes nas presidenciais de janeiro.
Ser "amigo" de Marcelo não é tudo
Apesar do apoio a Ana Gomes, Manuel Alegre garante ter Marcelo em boa conta: "Aprecio a forma como o presidente exerceu o primeiro mandato", afirma, elogiando o clima de "descrispação" que o ainda chefe de Estado ajudou a criar e sublinhando ser seu "amigo".
No entanto, acrescenta que, na política, isso não é tudo. "Uma eleição não é uma coroação nem é só consenso, também é dissenso e busca de alternativas". Além disso, Marcelo "não é da minha família política. Ele é um homem de Centro-Direita e eu sou de Esquerda, da resistência".
Questionado sobre se compreendia o facto de o PS não declarar apoio a Ana Gomes, Alegre não se quis alongar: "Compreender, compreendo...", afirmou, recordando a tradição do partido em apoiar candidatos socialistas nas presidenciais.
Desde que o PS decidiu dar liberdade de voto aos militantes, além de Manuel Alegre, também o ministro Pedro Nuno Santos, o secretário de Estado Duarte Cordeiro ou o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro já declararam apoio a Ana Gomes. O deputado Pedro Bacelar de Vasconcelos já tinha anunciado previamente essa intenção.