Há cada vez mais mulheres nos bombeiros e também nas chefias, Apesar do "coração mole" têm forças para chegar até ao topo.
Corpo do artigo
1. Deolinda Gomes
Com sete anos foi para a fanfarra
Deolinda Gomes, 55 anos, é a mais antiga bombeira no distrito do Porto e a primeira do concelho de Matosinhos a chegar a um cargo de chefia: há seis anos, foi nomeada adjunta de Comando dos Voluntários de S. Mamede de Infesta.
Foi com apenas sete anos que entrou para a fanfarra da corporação. Ali se manteve até aos 18 anos, altura em que foi desafiada a entrar como voluntária. Saiu da corporação três anos depois.
"Na altura, achei que já chegava, ia casar", recordou. Mas "por volta dos 24 anos", era a filha "ainda pequena", surgiu "uma vaga para entrar para a corporação como funcionária". E nunca mais abandonou a "casa".
Dos 30 anos como funcionária da corporação e dos 37 como bombeira, Deolinda recorda que no quartel eram só ela e outra colega, numa altura em que "as mulheres não faziam piquetes noturnos e em que alguns homens ainda achavam que as mulheres não estavam aptas para certos serviços".
Atualmente, a adjunta de comando sente que as coisas "já mudaram". Todavia, quando está no terreno com outras corporações, Deolinda sente que "ainda há colegas, sobretudo mais velhos, que ainda acham que as mulheres são menos capazes. Não o dizem diretamente, mas pensam", frisou.
Seis anos depois de ter assumido o cargo, Deolinda confessa que é "a mesma pessoa, só que com outra responsabilidade", admitindo que a principal qualidade das mulheres é serem "mais ponderadas".
2. Patrícia Gomes
Para "mudar mentalidades"
O cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Crestuma, em Gaia, deixa Patrícia Gomes, 32 anos, sempre em alerta. Tanto que numa corporação "com pouca gente" (são 32 bombeiros no ativo), e com "várias ambulâncias na rua", Patrícia pode ter que "sair a qualquer momento". Daí que ande sempre acompanhada com o rádio da Siresp, rede nacional de emergência e segurança.
A bombeira recorda ao JN que "não foi fácil, sobretudo para os mais velhos, aceitarem uma mulher como comandante, em 2016. Mas houve que "mudar mentalidades", acabando Patrícia por destacar-se pela sua dedicação à corporação.
"Este é um trabalho em equipa. Se não estou cá, como convenço os voluntários a vir?"Daí que tenha passado a ceia de Natal no quartel com a equipa que também integra o marido, Sérgio.
Patrícia tem consciência de que em casa assume muitas vezes o papel de "mãe ausente" e sente-se "culpada por ter abraçado o cargo". "Sei que os meus dois filhos estão bem com os avós, mas mãe é mãe", desabafou.
3. Rute Neves
Ainda há "estigma do rabo de cavalo"
Rute Neves, 45 anos, foi a primeira mulher, em 2017, a assumir funções de comando numa corporação do concelho de Santo Tirso. Cargo que a segunda-comandante dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso acumula com o de técnica de emergência pré-hospitalar no INEM e com o de formadora.
Adrenalina é o que não falta na vida de Rute, que confessa que uma das "vantagens como mulher é ser apaziguadora, de quem pensa mais e não reage a quente". Já como desvantagem vê o facto de ter de se "impor mais, porque ainda há o estigma quando veem um rabo de cavalo".
No terreno, Rute não tem dúvidas de que as vítimas se sentem "mais confortáveis" quando são socorridas por mulheres. "É o lado maternal", sustenta. Nesse contexto explica que "ainda há muito pudor quando uma senhora de idade tem de se expor, da mesma forma que uma grávida sente-se mais à vontade com outra mulher". "A mulher é mais meiga, mais humana".
4. Cândida Magalhães
Viu oportunidade como "desafio"
Cândida Magalhães fazia parte dos Bombeiros Voluntários de Pedrouços, na Maia, quando soube, há 11 anos, que "Ermesinde [no concelho vizinho de Valongo] ia ter, pela primeira vez, mulheres na corporação". Viu a oportunidade como "um desafio", desabafando contudo que "no início não foi fácil".
Há um ano, recebeu o convite para ser adjunta da comando. "Fiquei renitente, fui a medo", desabafou Cândida Magalhães.
Com o cargo, ganhou "maior responsabilidade", sabendo bem que ter que se "impor" é o lhe "custa mais". "Sou uma coração mole, mas vou aprendendo", admitiu.
Com o marido, João Paulo, a trabalhar na mesma corporação, difícil é conseguirem conciliar horários. "Fazer refeições à semana juntos, com o nosso filho de quatro anos, não é possível", referiu Cândida Magalhães, sublinhando que João Paulo é o seu maior "apoio". Mas admite: "Ter mais um filho seria difícil".v