Plano de Gestão de Riscos do Tejo e Oeste aponta impacto. Drenagem mais difícil por causa de solos impermeáveis.
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As cheias na região envolvente ao Tejo e às ribeiras do Oeste podem afetar milhares de empregos. A informação consta do Plano de Gestão dos Riscos de Inundações do Tejo e das Ribeiras do Oeste - 2.º Ciclo (2022-2027), da Agência Portuguesa do Ambiente. Na terça-feira, as cheias voltaram à Grande Lisboa, assim como ao Alentejo e ao Oeste, e muito das obras já planeadas para fazer face a estas situações estão por executar. O mau tempo vai continuar.
Portugal "tem um histórico de eventos de inundações de magnitude elevada e com impactos devastadores na população", figurando entre os sete países europeus onde há registo de eventos com mais de 100 mortes.
Na zona do Tejo e das ribeiras do Oeste, que abarca 103 municípios, "as cheias assumem especial relevância pela extensão da área sujeita a inundações, mas também pela relevância dos núcleos urbanos sujeitos a este tipo de ocorrências", lê-se no documento, que está em consulta pública até 30 de dezembro. Podem ser "cheias rápidas ou urbanas", na Área Metropolitana de Lisboa e na cidade de Tomar, e "cheias de longa duração", no curso principal do rio Tejo, no rio Sorraia e na ribeira de Muge.
O impacto sobre a atividade económica pode ser enorme, estimando-se que afete cerca de 435 mil pessoas (empregos) e mais de 119 mil negócios, com destaque para o comércio e turismo (alojamento, restauração e similares). Contudo, as medidas anunciadas em 2016 para minimizar este tipo de situações tinham, em dezembro de 2020, uma taxa de execução de 45%.
Noutras zonas do país, a vulnerabilidade "não terá a mesma magnitude", admite Rui Cortes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, mas isto não quer dizer que não haja risco. Aliás, até podem surgir novas zonas sujeitas a grande perigosidade, se tivermos em conta a proximidade à costa litoral, a construção e até o efeito dos fogos florestais, que "têm consequências no escoamento das águas e podem criar problemas nas bacias hidrográficas", sublinha Rui Cortes.
Mau planeamento
Nas cidades, a "construção sem limite em zonas de cheia" e a "impermeabilização das bacias", refere João Joanaz de Melo, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, contribuíram para aumentar o risco de inundações.
Os dois especialistas, assim como a associação Quercus, alertam para a necessidade de acautelar estas questões no ordenamento do território: criar áreas verdes e drenagem adequada nas cidades. "Lisboa é uma cidade com problemas de planeamento urbanístico, problemas de gestão de recursos, como entubamento de linhas de águas que fazem a drenagem natural das águas pluviais, entre outras más escolhas, que culminam na situação atual", critica a Quercus.
Quando há muita precipitação, "tudo fica pior, se não há dispositivos eficientes e de qualidade para garantir escoamento", explica Carmona Rodrigues, especialista em hidráulica e ex-presidente da Câmara de Lisboa. A construção de dois túneis de drenagem, previstos no Plano Geral de Drenagem de Lisboa que idealizou, já começou. Quando a obra terminar, "vai melhorar substancialmente", mas ainda assim "não vai eliminar 100%" dos problemas na capital.
"Por uma razão ou por outra, foram 15 anos" em que esteve "metido na gaveta", mas "agora é preciso andar para a frente", diz Carmona Rodrigues.
A saber
72 milhões de euros custam as 32 medidas de prevenção e proteção do plano, muitas por executar devido a "constrangimentos financeiros ou processuais".
Catástrofes
A 25 de novembro de 1967, registaram-se cerca de 220 mortes em Vila Franca de Xira devido a inundações. Em fevereiro de 1979, cerca de 6 mil pessoas ficaram desalojadas em Abrantes.
Solo artificializado
Alguns dos municípios possuem mais de metade do território com solo artificializado. É o caso de Lisboa (70%), Oeiras (63%), Odivelas (60%) e Almada (54%).