As distorções criadas pela pandemia nas avaliações para ingresso no Ensino Superior, com subidas significativas de médias, fizeram com que, neste ano, se registasse o maior número absoluto de candidatos dos últimos dez anos que já estavam matriculados numa instituição.
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Dos 64 363 que concorreram à 1.ª fase, 11,2%(7207) estavam matriculados. Uma subida de 36% face ao ano anterior.
Em termos absolutos, é o valor mais elevado desde, pelo menos, 2010, de acordo com os dados disponibilizados ao JN pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior. Nos dois últimos anos, a proporção havia sido, respetivamente, de 8,4% e 9,1%. A que não é alheio o facto de, nos dois últimos concursos de acesso, em plena pandemia e com regras de avaliação excecionais, o número de colocados em primeira opção tenha baixado. Nesta 1.a fase foram 50%, contra 53,1%, em 2019, e 54,7%, em 2018.
Isso mesmo explica o professor emérito da Universidade do Porto Alberto Amaral, para quem a pandemia "distorceu" o acesso. "Estes dois anos são atípicos. Aquele facilitismo nas avaliações fez com que muitos alunos não entrassem onde queriam porque as notas subiram". Contabilizando créditos e candidatando-se agora.
Sendo que, explica o antigo presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Superior, "ainda se irão refletir as consequências do ano passado, porque os alunos deixaram de ter uma orientação específica, e como as notas de 2020 ficaram distorcidas, agora vai acontecer a mesma coisa".
Modelo pré-pandemia
O regresso ao modelo pré-pandemia é, por isso, reclamado, tendo o ministro Manuel Heitor sinalizado já a importância de repor as regras dos exames nacionais com vista à equidade.
Para o investigador Tiago Neves, há várias questões que importa responder. "Será a única razão [a alteração nos exames]? Ou será que o modelo online permitiu desenvolver outra relação com o estudo?". Tanto mais que, teoriza o professor da UPorto, "se de facto não quiserem continuar a estudar, tanto faz ser um exame ou cinco".
O que obriga, agora, a uma reflexão sobre a forma como "vamos voltar à normalidade, evitando criar desigualdades nos estudantes entre momentos", diz. O que pode passar, "por exemplo, por uma padronização das médias globais" destes dois últimos anos.
A saber
Resultados 1.ª fase
Colocados 49 452 estudantes, menos 3% face ao ano passado, mas o segundo maior valor desde 1989. Quase um quarto dos candidatos não conseguiram um lugar. Candidataram-se 64 209 estudantes, o valor mais alto dos últimos 26 anos.
Sobraram 6393 vagas
Na 1.ª fase do Concurso de Acesso sobraram 6393 lugares (mais 6% face a 2020), que serão agora transferidas para a 2.ª fase que decorre até dia 8.
Cursos de excelência
Neste ano duplicaram os cursos com maior concentração de melhores alunos. São agora 40 as formações com nota de candidatura superior a 17 valores, 85% dos quais em instituições de Lisboa e Porto.