Linha de apoio lançada há um mês recebeu apelos de vítimas e amigos. APAV regista diminuição de casos, o que não corresponderá à realidade.
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A linha SMS de apoio a vítimas de violência doméstica, lançada há precisamente um mês, recebeu mais de uma centena de pedidos de ajuda.
O número 3060 foi criado pelo Governo e a Fundação Vodafone a pensar nas vítimas que estão fechadas em casa com agressores, uma epidemia escondida. Na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), desde o início de março, o número de pedidos de ajuda diminuiu entre 15% a 20%. Mas há mais vizinhos e amigos a pedir informações.
Desde 27 de março, dia em que a Linha SMS 3060, gratuita e confidencial, começou a funcionar, a equipa da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) recebeu 113 SMS. Vítimas, amigos e vizinhos pedem informações sobre apoios disponíveis na área de residência. E os profissionais também dão conselhos sobre procedimentos a adotar, apoio psicológico ou locais para formalizar denúncias. Nesta fase de pandemia, a CIG revela que está em contacto permanente com as forças de segurança territoriais, para reforçar a rapidez de resposta. Sempre que necessário, é acionada uma patrulha.
Segundo a Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, "a situação de confinamento e o contexto de stress agudizam o risco de violência doméstica" e pode significar mais dificuldade das vítimas em pedir ajuda. Em alguns países da União Europeia, os casos aumentaram em um terço. Em Portugal, isso ainda não se verifica, nem no número de denúncias, nem na procura dos serviços de apoio.
Mas o Governo já estendeu o período de acolhimento das vítimas nas casas de abrigo e nas respostas de emergência. E criou, a 6 de abril, duas novas estruturas temporárias para acolhimento de emergência.
Na APAV, os novos pedidos de ajuda caíram entre 15% a 20%. "Mas há mais pedidos de informação, por vizinhos e amigos". Segundo Daniel Cotrim, "estamos a viver uma tranquilidade aparente, os números não representam a realidade".
Escalada na coação
"Primeiro, as vítimas estão fechadas com o agressor, é difícil pedir ajuda. Depois, a crise financeira também lhes levanta dúvidas sobre se é o momento para denunciarem", explica.
Ainda assim, já se sentem mudanças. "Alguns casos que estamos a receber em acolhimento de emergência são diferentes do comum. Mulheres que não tinham situações de violência e que estão a ser postas na rua pelos companheiros, motivados pelo stress do isolamento". Daniel Cotrim teme uma escalada da violência psicológica e da coação sexual. E apela aos vizinhos para "estarem atentos". As vítimas "não devem confrontar os agressores e devem aproveitar quando vão à rua para pedir ajuda".
À lupa
Comunicação reforçada
A Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica reforçou atendimentos à distância: videochamada, SMS, Messenger, WhatsApp, email. Mantém o atendimento presencial e acode a situações de urgência.
Contactos
A Linha SMS 3060 é gratuita e não fica registada nas faturas. Está ainda a funcionar, 24 horas por dia, a linha 800 202 148 e o email violencia.covid@cig.gov.pt. Para situações urgentes: 112.
Lá fora
Em França, os pedidos de ajuda aumentaram 30% em Espanha 18%. Na China, onde o isolamento já foi aliviado, as denúncias dispararam.