Sociedade de Diabetologia e Associação de doentes denunciam falta de acompanhamento durante a pandemia e alertam para complicações.
Corpo do artigo
A interrupção nos cuidados regulares de saúde devido à pandemia deixou "cerca de 15 mil casos de diabéticos por diagnosticar", estima João Raposo, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), lembrando que o diagnóstico precoce evita complicações e internamentos.
O responsável denuncia também que há "atrasos no diagnóstico de situações que decorrem da diabetes" e que necessitariam de tratamento imediato para não progredirem para problemas mais graves, que são "mais penosos" para os doentes e "mais caro para o Estado", como amputações e problema oftalmológicos. Apela, por isso, a que não se deixe de acompanhar estes doentes enquanto se luta contra a covid-19.
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Diabetes, uma doença que afeta cerca de 1,3 milhões de pessoas em Portugal, 40% dos quais estão por diagnosticar, estimam as associações.
vêm problemas maiores
As consequências dos atrasos, refere, por seu lado, José Manuel Boavida, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), vão ser notadas a médio prazo, com problemas maiores. Entre as complicações está o pé diabético que, "se não é diagnosticado e tratado a tempo, leva a um aumento das amputações".
Também os rastreios à retinopatia diabética estão "atrasados ou suspensos", o que levará a uma demora no "tratamento de situações oftalmológicas, um aumento da cegueira e da diminuição da visão", diz José Manuel Boavida. É possível, ainda, que haja maiores complicações a nível de rins, já que a diabetes é a principal causa de insuficiência renal.
Nesta segunda vaga de covid-19, evidencia João Raposo, "a resposta do SNS também está diminuída e precisamos de encontrar formas alternativas de prestar os melhores cuidados" aos diabéticos e não deixar ninguém para trás. As consultas por telefone e internet têm permitido acompanhar algumas situações, mas deixam de fora pessoas que não têm acesso a estes meios tecnológicos.
Covid-19 mais grave
As pessoas com diabetes, diz João Raposo, da SPD, "não parecem ter um risco aumentado de ser infetadas com covid-19, mas têm um risco significativo de ter as formas mais graves, ser hospitalizadas, desenvolver complicações mais graves ou falecer".
O Observatório Nacional da Diabetes refere que, nos primeiros seis meses, a hospitalização para a população diagnosticada com covid-19 foi de 14,5%, enquanto nas pessoas com diabetes essa percentagem subiu para 43,3%, ou seja, três vezes mais. Ainda de acordo com o observatório, 20,3% das pessoas com diabetes necessitaram de internamento nos Cuidados Intensivos, contra 8,8% das pessoas infetadas que não têm diabetes. Estes dados levam a APDP a sublinhar a importância do rastreio da covid-19 em pessoas com diabetes.
Mais despesa
Os encargos do SNS com antidiabéticos aumentaram 12,2% face ao ano anterior, de acordo com dados do Infarmed até agosto de 2020. Em causa está o "aumento dos doentes a necessitarem de tratamento e, também, a entrada ao longo dos anos de novas classes de medicamentos".
Apoio e rastreio
A APDP criou, na primeira vaga da pandemia, a Linha de Apoio à Diabetes (21 381 61 61) para ajudar a orientar as pessoas e irá manter-se na segunda vaga. Arrancou este mês o projeto "Lisboa a Mudar a Diabetes" que, até dezembro, vai rastrear as pessoas mais vulneráveis e encaminhar os casos de risco para serviços de saúde.