Cerca de 37% das espécies de tubarões, raias e quimeras estão em ameaça devido à sobrepesca. O Governo vai criar uma equipa para elaborar um plano de ação nacional para a gestão e para a conservação destes animais, mas a ANP/WWF está preocupada e alerta para o aumento do consumo de tubarão.
Corpo do artigo
O despacho, publicado este semana, define a criação de um grupo de trabalho para avaliar o estado de exploração das populações de tubarões, raias e quimeras e identificar as principais ameaças. A equipa deverá propor medidas de proteção dos habitats e definir um plano de monitorização das capturas, minimizando a captura acidental. Na sequência desta decisão, a ANP/WWF enviou, às secretarias de Estado das Pescas e da Conservação da Natureza e Florestas, um relatório com contributos de mais de 30 especialistas.
Ana Henriques, técnica de Oceanos e Pescas da ANP/WWF (Associação Natureza de Portugal/World Wide Fund For Nature) , afirma que a maior preocupação da organização é o facto do grupo de trabalho vir a ser composto quase exclusivamente por membros do Governo, sem representação das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, do setor da pesca e dos cientistas.
No despacho, é referido que o grupo de trabalho pode solicitar a participação de outras entidades, entendendo-se por “entidades cujo contributo seja considerado relevante para a prossecução dos trabalhos” e que a integração de representantes dos governos das regiões autónomas na equipa será apenas mediante convite da área governativa da Economia e Mar. O que seria uma decisão dos membros da equipa e não um requisito, segundo Ana Henriques, fazendo com que haja menor diversidade de opiniões, limitação de recursos e informação e, eventualmente, problemas na formulação de medidas.
Tráfico de carne de tubarão
A associação defende, ainda, que seja definido um prazo para a conclusão do processo. E alerta para a falta de uma distinção clara entre as espécies com estatuto comercial – como o atum e a sardinha – e as espécies com estatuto de proteção e em vias de extinção.
Ana Henriques assinala que 37% das espécies de tubarões, raias e quimeras estão em ameaça devido à sobrepesca, às suas reproduções tardias e às gestações mais demoradas do que outros peixes. A especialista sublinha que, “historicamente”, a pesca de tubarões é acidental. “No entanto, nos ultimos 10 a 15 anos, existe um fragmento de frotas que captura, por exemplo, atum, mas 70% dos seus volumes de captura são tubarões. Estes números são demasiado altos para ser considerada pesca acidental”, adverte ainda.
O aumento do mercado de carne de tubarão, para além das barbatanas consumidas na Ásia, é uma preocupação: “Portugal e Espanha participam num circuito mundial, que inclui 170 países de tráfico de carne de tubarão”. Nas águas europeias, estão 90% das espécies de tubarões, raias e quimeras.