Cerca de 67% dos medicamentos que foram descontinuados no ano passado eram genéricos. E, no início desta semana, 79% dos fármacos em rutura temporária também correspondiam a genéricos. Os dados são da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (Apogen). E há razões que justificam este cenário.
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Uma delas prende-se com a sua “inviabilidade económica”. A presidente da Apogen defende uma atualização anual dos preços, no mínimo, ao nível da inflação. E aponta para a importância de criar “um equilíbrio entre a sustentabilidade da despesa em Saúde e a competitividade e atratividade da indústria farmacêutica que investiga, desenvolve, produz e comercializa genéricos”. Estes fármacos começaram a ser vendidos em Portugal há 31 anos.
“O preço [dos genéricos] em Portugal é baixo. O custo industrial é superior ao preço de venda e, sendo superior, a margem [de lucro] é negativa. As empresas deixam de ter viabilidade e não comercializam”, explicou Maria do Carmo Neves, sublinhando, no entanto, que há medicamentos alternativos no mercado. Ainda assim, os doentes têm de mudar de marca e isso pode trazer perturbações.
Para evitar “grandes ruturas”, Maria do Carmo Neves defende uma atualização anual dos preços, no mínimo, ao nível da inflação. Este ano, o Governo acedeu a uma subida de 5% para os medicamentos, cujo preço de venda era inferior a 10 euros. O aumento é “curto” para a presidente da Apogen. “Se a indústria de medicamentos genéricos não é sustentável”, também prejudica os cidadãos que procuram os fármacos e o SNS.
Pela primeira vez, em abril, estes fármacos atingiram uma quota de mercado acima dos 50%. Situou-se nos 51,2%. Mas é preciso ir mais longe. Até porque Portugal tem uma quota abaixo de outros países europeus.
Na Alemanha e no Reino Unido, exemplifica Maria do Carmo Neves, cerca de oito em cada dez utentes usa genéricos. Para a Apogen, é importante atingir uma quota de 60%. Só este ano, a poupança gerada com genéricos foi de 260 milhões de euros. “O medicamento genérico aumenta o acesso dos portugueses [à terapêutica], a sustentabilidade do SNS e liberta capacidade financeira para a inovação”, sublinhou Maria do Carmo Neves.