Maioria dos projetos são para vigiar insuficiência cardíaca e DPOC. 98% das unidades com teleconsultas.
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Impulsionados pela pandemia de covid-19 e pela disrupção provocada na prestação dos cuidados de saúde, a maioria dos hospitais implementou soluções digitais com foco no doente. Mais de 70% das unidades já faz a vigilância remota de determinadas patologias crónicas e 98% aderiram às teleconsultas. O barómetro Saúde Digital mediu a realidade em 2019 e em 2022. Ainda há barreiras na literacia e dificuldades financeiras, mas a evolução é visível.
A segunda edição do barómetro Saúde Digital, realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e pela empresa Glintt, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), reflete as respostas de profissionais (clínicos e não clínicos) com funções de chefia em 23 hospitais (47% do universo do SNS), cinco agrupamentos de centros de saúde (Aces), três unidades do setor social e privado e seis serviços centrais. Em abril de 2022, 84% destas instituições já tinham implementado pelo menos um projeto na área da telessaúde (98%, se analisados apenas os hospitais), quando em 2019 eram 75%.
Skype, zoom e teams preferidos
Dentro da telessaúde, a teleconsulta é a área mais usada (96%) e a maioria destes contactos (71%) são feitos através de plataformas informais (como o Whatsapp, Skype, Zoom ou Teams, entre outros). As plataformas formais (como o RSE Live) são usadas em 55% das teleconsultas dos hospitais e 60% dos Aces. O que, conforme indica o barómetro que hoje será divulgado, "deixa dúvidas sobre se tal é devido a uma maior comodidade e acostumação dos profissionais e utentes" às plataformas informais ou se "se deve a uma menor existência, consciencialização e formação sobre as plataformas formais".
Ainda na telessaúde, a telemonitorização dos doentes é a segunda área mais usada. Os hospitais públicos usam este serviço para seguimento da insuficiência cardíaca crónica (53%), da doença pulmonar obstrutiva crónica (50%) e no enfarte agudo do miocárdio (33%). "As três áreas de telemonitorização são coincidentes com os três programas financiados nos contratos-programa dos hospitais", assinala Miguel Cabral, médico e coordenador da área de saúde digital da ENSP da Nova de Lisboa, que participou no estudo coordenado por Teresa Magalhães.
As instituições apontam a baixa literacia em telessaúde e a falta de motivação dos profissionais como as principais barreiras ao desenvolvimento desta área.
Quanto às questões financeiras, apesar das dificuldades, há boas perspetivas para o futuro. As instituições admitem orçamentos curtos - apenas 14% têm verba suficiente para projetos de Saúde Digital nos próximos 12 meses - mas 72% acreditam que o ambiente para a inovação e o investimento em Saúde Digital irá melhorar nesse período. A expectativa nos milhões do Plano de Recuperação e Resiliência poderá explicar tal esperança.
SABER MAIS
Vários serviços remotos
A telessaúde compreende o uso das tecnologias de informação para prestar serviços de saúde à distância, promovendo a equidade e o acesso. Além da teleconsulta e da telemonitorização, as instituições inquiridas no barómetro Saúde Digital também têm o telediagnóstico (40%), o telerrastreio (35%), a teleformação (33%) e a telereabilitação (22%). Só 2% usam a telessaúde para decisão terapêutica e discussão de casos.
Prioridade para 56%
77% dos responsáveis das unidades inquiridas admitem que a telessaúde permite a redução das admissões hospitalares e 56% consideram-na uma prioridade na sua instituição.
Inteligência artificial
Na área da inteligência artificial, a gestão do doente crónico é a solução com maior perspetiva de implementação no futuro próximo (46%), seguida do atendimento automático (42%) e da interpretação de imagens (41%).
Principais barreiras
A falta de profissionais com formação em ciência de dados, a escassez de recursos financeiros e a inexistência de infraestrutura tecnológica são as principais barreiras na adoção de inteligência artificial nas instituições de saúde.
Maturidade digital
A perceção dos inquiridos sobre a maturidade digital das instituições está a aumentar, sendo de 6,6 numa escala de zero a 10.