Portugal tem em curso projetos que permitirão tirar mais partido da energia solar já este ano, mas a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) alerta que é preciso facilitar a distribuição e licenciamentos e harmonizar a estratégia com os municípios para se aproveitar melhor o potencial das renováveis. Entre janeiro e abril deste ano, 74,3 % da energia elétrica gerada em Portugal continental teve origem em fontes renováveis, nomeadamente eólica, hídrica, solar e biomassa, contabiliza a APREN. Hoje assinala-se o Dia Nacional da Energia e amanhã arranca, em Lisboa, a Cimeira da Energia, que será dedicada à transição energética.
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Em resposta ao JN, o Ministério do Ambiente diz que estão em curso projetos ligados às energias renováveis, nomeadamente licenciados ao abrigo de leilões solares, centros eletroprodutores e para autoconsumo, entre outros, que farão aumentar a produção de energia renovável no país.
"Estima-se que em 2023 a capacidade instalada de energia solar aumente pelo menos 1 GW (gigawatts), correspondendo a uma produção anual estimada de 1600 GWh", ou seja, "cerca de 5% da eletricidade renovável gerada em 2022", especifica.
No âmbito desta estratégia, a produção de energia eólica offshore deverá desempenhar também um papel importante. O Governo anunciou a intenção de elevar a capacidade dos atuais 25 MW (megawatts) para 10 GW até 2030, mas até ao momento não são conhecidas atribuições.
O peso das renováveis na produção de energia elétrica tem vindo a aumentar desde 1995 (28,5%), representando metade em 2022, mas apenas por ter sido um ano seco. Em dezembro, quando choveu, a produção hídrica aumentou e as fontes renováveis foram responsáveis pelo abastecimento de 92,1% do consumo de eletricidade no país.
Os dados referem-se ao consumo elétrico (habitações, indústrias e comércios, mobilidade elétrica, etc.) e não consumo energético global, que inclui também, por exemplo, gás natural para a indústria e habitações e petróleo para transportes. Segundo dados da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), quando se considera o consumo energético global, o peso das renováveis desce para cerca de 38%.
Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, diz que para as renováveis pesarem mais no consumo global, é preciso, entre outras coisas, "converter a mobilidade toda", reduzindo a dependência do fóssil. Para acelerar o cumprimento das metas (o Governo quer aumentar para 80% o peso das renováveis até 2026, antecipando em quatro anos a meta estabelecida no Plano Nacional de Energia e Clima), "ainda há muito trabalho a fazer", alerta Pedro Amaral Jorge.
"Temos de expandir a rede elétrica de distribuição e transporte, simplificar o licenciamento e enquadrar com os municípios", aponta, denunciando que "há municípios a criarem regras para impedirem a instalação de centros fotovoltaicos, a criarem associações contra sistemas de energia renovável".
A transição energética é inevitável e tem de se arranjar uma forma de envolver toda a gente no processo", defende o presidente da APREN, considerando que "Portugal tem ainda muito "potencial" para aproveitar.
Segundo dados da DGEG, a potência instalada nas centrais produtoras de energia elétrica em 2021 em Portugal era de 5,6 GW para energia eólica, de 7,1 GW para hídrica, de 1,7 GW para fotovoltaica e 0,7 GW biomassa.
4º lugar na Europa
De acordo com os últimos dados (de 2021) do Eurostat, Portugal é o 4.º país da União Europeia com maior percentagem de renováveis no consumo de energia, atrás da Áustria, Suécia, Dinamarca e bem acima da média europeia de 37,5%.
Poupança na fatura
Em 2021, a produção de eletricidade com fontes renováveis gerou uma poupança anual na fatura de luz que chegou aos 300 euros no caso dos consumidores domésticos, revelou um estudo da Deloitte para a APREN.
Emprego
De acordo com um estudo da Deloitte para a APREN, perspetiva-se que até 2030 sejam criados 66.900 novos empregos no setor.
Norte e centro lideram
Segundo o boletim de estatísticas de março de 2023 da Direção Geral de Energia e Geologia, cerca de 82% da produção de origem renovável ocorre nas regiões Norte e Centro do país.