A “Zona Verde” da Conferência do Oceanos é um hino às sensações, um verdadeiro mergulho pelas profundezas de um mar que se quer dar a conhecer ao Mundo.
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Cindy Fawaz não escondeu o entusiasmo. Entrar numa cúpula prateada que está no Palácio de Exposições de Nice, cidade francesa palco da terceira Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC3), é sentir corpo e mente no fundo do mar, entre as mais diversas criaturas marinhas, qual explosão de sensações. Por isso, a espera de cerca de 20 minutos para mergulhar na experiência imersiva valeu a pena. "Foi a minha paragem preferida, sem dúvida", contou ao JN, reconhecendo que o filho, de dois anos, não conseguiu desviar os olhinhos arregalados da projeção durante todo o tempo.
Por hoje, a visita está concluída, mas Cindy quer voltar à chamada “Zona Verde” ou “Baleia” antes de o encontro acabar. Não tem muito tempo, é já amanhã. Ao contrário da “Zona Azul”, espalhada pelo porto de Nice, o Palácio de Exposições está aberto ao público, com os mais variados stands, mostras e palestras.
Não há quem passe pelos três capacetes de mergulho dourados em exposição sem parar uns instantes para uma fotografia. Parecem acessórios de astronauta, mas são peças icónicas que marcaram as histórias do mergulho inglês e francês nos séculos XIX e XX. Bem lá perto, um submarino real, o “Anorep I”, construído em 1966 pela empresa Perona, em Nice, com a fascinante missão de investigar corais vermelhos no Mediterrâneo, até 100 metros de profundidade.
O caranguejo ávido de amor
Há coletes amarelos a serpentear pelo recinto, são pequenas excursões infantis destinadas a construir futuras gerações verdadeiramente azuis. Jogos sobre os oceanos e as espécies marinhas – para miúdos e graúdos - túneis escuros que são autênticas viagens às profundezas do mar, espaços variados de desenho onde um caranguejo pede amor e mil e uma fotografias expostas pelos quatro cantos da “Baleia”. Num dos “corredores”, a elegância do cavalo-marinho, o peixe-borboleta, a estranheza dos leques-do-mar e a leveza das raias, anjos do mar.
Entretanto, um globo diante dos nossos olhos que se ilumina consoante a informação que lhe for pedida pelo visitante, dos cardumes à clorofila. Cada canto é uma lição – por exemplo sobre o impacto dos plásticos no oceano – e há espaço para tudo. Uma das paragens que desperta curiosidade é a dedicada à lenda do grande tubarão-martelo, que representa a ligação espiritual entre a Polinésia e a natureza. “Um guardião, um protetor” – explicam no stand – que está a pedir a nossa ajuda.
Uma mensagem de alerta que se estende a todo o universo marinho. Tal como reconheceu Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da organização ambientalista WWF Portugal, há caminho feito nesta UNOC3, sobretudo no que diz respeito à moratória sobre a mineração em mar profundo a nível europeu, ao Tratado do Alto-Mar e ao acordo global para a redução dos plásticos. Contudo, recordou, “estas conferências não são as COP, não saem daqui decisões”. “São fóruns de encontro” e de “aprendizagem”, que colocam o peso do Mundo às costas da palavra “compromisso”.