Antropólogo Rui Diogo diz que noção de família do livro “Identidade e família” não se coaduna com os dias de hoje.
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O conceito de família que é defendido no livro “Identidade e família”, coordenado pelos fundadores do Movimento Ação Ética, não é “natural, universal e intemporal”, diz Rui Diogo, antropólogo e biólogo português que dá aulas na Howard University, em Washington DC, nos Estados Unidos. O investigador e escritor, que se tem debruçado sobre temas como o racismo e o sexismo, lembra que as sociedades são mutáveis e haver escolhas não é uma ingerência.
“A ciência e a sociedade, ao contrário da religião, são mutáveis, não são dogmáticas”, diz Rui Diogo, explicando que as soluções que os autores do livro querem manter “não eram verdade no passado, nem se coadunam com o estilo de vida atual”. A noção de família em que o pai é o provedor do sustento dos filhos e da mulher, que fica em casa, tem apenas “dezenas de anos”, recuando aos anos de 1960. E “colapsou muito rapidamente, durou uns 20 anos”. Quanto às mulheres, “nunca foram domésticas, nem natural nem historicamente”, trabalhando nos campos e noutras atividades no exterior. A noção que se defende na obra circunscreveu-se a “um período muito diminuto da história”. Segundo o antropólogo, “houve mudanças ao longo de toda a história, não se podem proibir as mudanças”