Doença explica uma parte significativa das idas às urgências, por todo o país transformadas num pequeno (nalguns casos enorme) caos. As características das infeções, a sobrecarga dos serviços de saúde, as recomendações, as boas e as más notícias. E uma nota à cabeça: “Não é caso para alarme”
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Olhando à volta, a perceção é clara: está meio mundo doente, a tossir, com febre, dores no corpo, vómitos, diarreias e outras queixas mais. A covid ainda por cá anda, é um facto, mas são os testes à gripe A que lideram os positivos (isto quando é possível fazê-los, vale a pena lembrar que estão esgotados em várias farmácias). Ainda por cima esta gripe parece ser particularmente intensa, os sintomas são fortes e, como se não bastasse, perduram no tempo. As urgências têm estado a abarrotar, ainda na última quarta-feira, dia 3, o tempo de espera para doentes urgentes excedia as 15 horas no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), rondava as 12 horas em Loures e em Setúbal, superava as oito horas no Hospital de Santa Maria (Lisboa) e aproximava-se das cinco horas na Guarda. E se é certo que as dificuldades que o SNS atravessa também têm o seu peso neste quadro em que esperar horas a fio se faz lei - lá iremos, mais adiante - , há que salientar que a gripe A tem uma boa dose de culpa nisto.
Pelo menos, a avaliar pelos mais recentes dados do Programa Nacional de Vigilância da Gripe, no momento em que estas linhas estão a ser escritas. Divulgados semanalmente pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), dizem respeito ao período entre 18 e 24 de dezembro e mostram que, só nessa semana, registaram-se nos hospitais 910 testes positivos para o vírus da gripe, maioritariamente do tipo A (91,9%). Alargando a contagem até ao início de outubro, os casos de gripe ascendiam já aos 3672 (entre 31 420 situações de infeção respiratória). Sendo certo que estes números pecam imensamente por defeito. Cristina Marujo, diretora do serviço de urgência de adultos do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, explica. “Claro que os números estão longe de traduzir a população toda que tem gripe A. Nós não temos de diagnosticar só porque sim. Fazemos rastreios na triagem nos casos em que é necessário administrar antivirais - e a maior parte dos doentes não precisa. Portanto há muitos casos que não chegamos a diagnosticar.”