Ciência mostra que limitar a alimentação a 12 horas por dia ajuda a perder peso. Desrespeitar o ritmo circadiano pode causar doenças metabólicas, adverte o neurobiologista Joseph Takahashi, que veio ao Porto falar sobre o mecanismo do relógio e como este controla milhares de genes no nosso corpo.
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Afinal, não basta fazer dieta para perder peso e ganhar saúde. É importante ter atenção ao momento do dia em que se ingerem os alimentos. É que as disfunções do ritmo circadiano, o relógio biológico interno que nos diz quando devemos dormir ou estar acordados, têm impacto direto no metabolismo. Restringir a alimentação a um período de 12 horas por dia, ajuda a emagrecer e pode ser a chave para aumentar a longevidade.
Quem o diz é o neurobiologista e geneticista Joseph Takahashi, da Universidade do Texas, que participa no simpósio "Aquém e Além do Cérebro", organizado pela Fundação Bial, que começou ontem e decorre até amanhã, no Porto. O investigador norte-americano liderou na década de 90 a equipa que descobriu a base genética dos ciclos circadianos dos mamíferos e o chamado gene do relógio.
"Estes genes estão em todo o corpo e relacionam-se com quase todos os processos metabólicos. Se não funcionarem bem, provocam disfunções", entre as quais a desregulação da glicose que pode levar a um estado de pré-diabetes, explica o cientista, ao JN.
Tal disrupção pode ocorrer por razões genéticas ou sociais. Estas últimas podem ser espoletadas, por exemplo, pelo trabalho até tarde ou por turnos, acrescenta Joseph Takahashi.
Pelo contrário, se o relógio biológico for respeitado, há ganhos metabólicos. É o que evidenciam recentes experiências com ratos em laboratório, que têm servido de base às populares dietas do jejum intermitente.
"As experiências mostram que os ratos metabolizam a mesma dieta de forma diferente, dependendo do momento do dia em que comem. Não sabemos exatamente porquê, mas há uma clara diferença em comer no momento certo e também em ter um intervalo de jejum", afirma.
Quanto tempo deve durar o jejum, é matéria ainda em estudo. "Pensamos que talvez 12 horas seja suficiente", adianta. Ou seja, quem tomar o pequeno-almoço às oito horas deve parar de comer às 20 horas. Segundo Takahashi, as experiências também compararam pequenos-almoços leves e jantares pesados, e vice-versa, e "concluíram que quem consome a maioria das calorias mais cedo perde peso e tem melhor controlo da saúde".
"Batota" não funciona
Muitas pessoas tentam adiar a hora da primeira refeição para poderem comer até mais tarde, mas a "batota" não parece funcionar. Um artigo científico recente comparou um grupo que começava o dia com o pequeno-almoço com outro que ingeria as primeiras calorias apenas à hora do almoço. "Os que comem pequeno-almoço têm melhores resultados, cumprindo o mesmo intervalo e com a mesma comida", relata.
Segundo o investigador, o nosso relógio interno não corresponde exatamente às 24 horas do dia. Pode ser maior - o que acontece com 80% das pessoas - ou menor (20%). Quando é maior, as pessoas tendem a acordar mais tarde e a adormecer também mais tarde, quando é menor, acordam cedo e deitam-se cedo.
Se o horário por turnos ou fora de horas pode desequilibrar o relógio interno e provocar disfunções metabólicas, também alterações que parecem menores, como a mudança da hora, podem causar problemas de saúde. A hora de verão, a mudança considerada mais crítica, obriga as pessoas a avançar uma hora e como a maior parte tem um relógio maior do que as 24 horas, significa que tem de avançar duas horas, refere.
"Há quem demore três a quatro semanas a adaptar-se ao horário de verão", diz Joseph, notando que a transição leva a um aumento dos acidentes viários e dos eventos cardiovasculares.