No dia 25 de abril de 1974, Carlos Fiolhais, então aluno do 1. ano de Física na Universidade de Coimbra (UC), soube que algo de anormal se passava porque o seu pai, sargento da GNR, foi chamado de madrugada. Foi às aulas, normalmente, mas lembra-se que, no final da manhã, já não teve Matemática, "uma vez que a Revolução triunfava na rua".
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Pela rádio e televisão foi recebendo as notícias.
Esteve, "embora a prudente distância", no dia 26 de abril, no ajuntamento que se formou em frente ao edifício da DGS (antiga PIDE) de Coimbra. "A situação foi um pouco caótica, mas lá se resolveu", lembra aquele que é, hoje, um dos mais distintos físicos portugueses, para além de professor universitário e ensaísta.
Carlos Fiolhais não teve atividade política nem antes nem depois do 25 de abril, "embora tivesse sempre interesse pela coisa pública", garante. "Antes do 25 de abril senti a falta de liberdade primeiro no liceu (eram censurados artigos que eu e um colega escrevíamos para um jornal regional) e depois, embora por pouco tempo, na universidade (panfletos clandestinos nas casas de banho, estudantes detidos, etc.)", diz o físico.
Depois do 25 de abril, "a liberdade teve os seus excessos, desde os saneamentos de professores à presença de alunos na gestão e às assembleias magnas demoradas e tumultuosas", sustenta o físico. Apesar disso, o seu curso universitário, que começou em 1973 e terminou em 1978, não foi afetado.
Para Carlos Fiolhais, "a grande diferença entre 1974 e 2014, além, claro, da liberdade e da integração na Europa, é o salto enorme dado na educação, que se alargou enormemente, e na ciência, que praticamente não existia, e, hoje, pese embora as atuais inquietações, é uma das nossas maiores riquezas". "Só por esse salto valeu a pena o 25 de abril", considera o professor da UC.