Centro Hospitalar de Santo António fez primeira cirurgia assistida por robô para prótese total do joelho. "Não é ficção científica, é no SNS", avisa ministro.
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O doente dorme profundamente enquanto os cirurgiões e enfermeiros estão concentrados num joelho ensanguentado completamente aberto. Seria o cenário de uma normal cirurgia de prótese total do joelho, não fosse a companhia de "um braço" que anda ali por cima a trabalhar ao micrómetro para chegar muito mais além do que a mão do melhor cirurgião. O braço pertence ao ROSA (Robotic Su rgical Assistant, na sigla inglesa), a nova "estrela" do bloco operatório de ortopedia do Hospital de Santo António, no Porto.
O robô trabalha em equipa. Precisa dos médicos, enfermeiros e técnicos que estão na sala, mas está ali para facilitar a vida de todos e, em especial, daquele doente com artrose do joelho que, aos 74 anos, sairá daquele bloco com melhores resultados clínicos e um pós-operatório mais tranquilo.
Com base na informação prévia que recebeu sobre o joelho a intervencionar, aquele braço robotizado garante que os cortes feitos no osso para aplicar a prótese são perfeitos.
Retirar a dor ao doente
"Na técnica clássica há o rigor possível, este robô permite um rigor jamais visto. Vai ao micrómetro para ajustar a prótese à anatomia do doente", assegura António Oliveira, diretor do serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), uma das principais unidades do país em patologia do joelho. Por ali, fazem-se cerca de 500 cirurgias por ano. Com a inovação tecnológica, há também a expectativa de reduzir os dias de internamento dos doentes e as infeções hospitalares.
Máscara amarela e viseira já salpicada de sangue, o cirurgião principal Adélio Vilaça recebeu formação em Espanha e na Alemanha para trabalhar aquela máquina que, acredita, trará melhores resultados para o paciente. Na cirurgia tradicional, "entre 10% a 15% dos doentes com prótese do joelho ficam com muita dor e não sabemos porquê", afirma convencido de que "estas tecnologias vão provavelmente retirar a dor a esses doentes".
As explicações de Adélio Vilaça são seguidas de perto por Ivone Silva. A diretora do Bloco Operatório do CHUdSA tem uns óculos holográficos e está a transmitir em direto a cirurgia para os alunos de Medicina. Do lado de lá, os estudantes acompanham os procedimentos e conseguem ver o ROSA a trabalhar, bem como os resultados alcançados no teste final de mobilidade do joelho.
Estender ao resto do país
"Isto não é ficção científica, é mesmo algo que está a acontecer no SNS", alertou, à chegada, o ministro da Saúde, que fez questão de assinalar a primeira cirurgia assistida por robô na prótese total do joelho realizada no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em março, já tinha estado no mesmo hospital a inaugurar o robô cirúrgico que está a ser usado em urologia e ginecologia, e que já fez mais de 30 intervenções desde então.
O SNS já conta quatro robôs cirúrgicos - dois no Santo António, um no S. João e um no Curry Cabral - e há "um processo em curso" para estender os programas de robótica aos hospitais do Centro e de Lisboa e Vale do Tejo, adiantou o ministro.
Além das vantagens para os doentes, o ministro vê nos robôs cirúrgicos uma forma de convencer os médicos a ficarem no SNS. "Esta nova vaga de inovação tecnológica também ajuda a captar os jovens profissionais e a manter o SNS na liderança da Saúde em Portugal", destacou Manuel Pizarro.