Não só a elegância do repórter, mas também o aprumo dos transeuntes revelam outro tempo. Hoje, na frescura dos 82 anos, o nosso Germano Silva veste amiúde as calças de ganga condizentes com a juventude que nele vive, mas a fotografia mostra-nos um homem classicamente garboso, que, no dia 25 de abril de 1974, estava no sítio do costume: a trabalhar no JN.
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Não admira. Está no JN desde 1956. E no dia da revolução trabalhou mais do que contava quando, a 24, saiu da cama. "Por volta das 23.30, eu, o José Saraiva, o Manuel António Pina e um outro, que não recordo, saímos para ir comer à Rosa das Iscas, na Rua da Lapa. Ao passarmos nas traseiras do quartel-general, havia chaimites e um tipo a dar pontapés no portão. O Pina disse "é hoje!", e voltámos para a Redação".
"Eu ligava esse tempo à revolta de 31 de janeiro de 1881: toda a gente sabia que ia acontecer, mais cedo ou mais tarde", lembra Germano. Aconteceu então. O fecho estava a cargo de Manuel Ramos, que decidiu acabar o jornal como planeado e fazer, depois, edições especiais.
Os sinais de mudança sucediam-se. Ramos ainda enviou as provas da primeira edição à censura: "O contínuo, que era o Maciel, foi à Rua de Santa Catarina, onde ficava a Censura, e veio pelo mesmo caminho, a dizer que não estava lá ninguém".
No jornal, decidiu-se coletivamente o que fazer. "Era a primeira vez que se fazia uma reunião, assim, para preparar uma edição", conta, a propósito dessa noite de "excitação muito grande": "Começaram a chover telefonemas de malta conhecida: alguns pensavam que isto ia virar mais à Direita e que tinham de fugir".
Tudo mudou. No jornalismo, porém, Germano destaca ter havido a capacidade de assumir uma nova realidade - o fim da Censura e a possibilidade de noticiar tudo o que antes era calado - "de forma normal e responsável".