Foram precisas cinco candidaturas para que Egas Moniz trouxesse para Portugal aquele que, ainda até aos dias de hoje, foi o único prémio Nobel da Medicina atribuído a um português. Daí que não seja de espantar que o feito tenha sido descrito, nas notícias da época, como um motivo de "orgulho para o país".
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António Egas Moniz já era conhecido internacionalmente por ter criado a angiografia cerebral. "Um método de visualizar os vasos sanguíneos do cérebro, permitindo, assim, o diagnóstico e a localização dos tumores cerebrais", explicou o JN.
Mas o prémio Nobel da Medicina acabou por lhe ter sido atribuído por uma outra descoberta (tinha sido candidato em 1928, 1933, 1937 e 1944): a "leucotomia pré-frontal", que "abriu as portas para uma ciência nova, a psicocirurgia", escreveu o JN, numa notícia de destaque de primeira página sobre a atribuição do Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina a Egas Moniz a 27 de outubro de 1949, junto com Walter Rudolf Hess, do Instituto de Fisiologia da Universidade de Zurique. "É a primeira vez que um português recebe tão alto galardão", destacou o JN, no post-título de uma notícia, onde sublinha que se trata de "motivo de orgulho para o país".
"Cremos não haver nenhum português que deixe de se sentir lisonjeado pelo facto de ter merecido universal consagração o mérito científico de um dos seus mais ilustres compatriotas", acrescentou-se na edição do dia seguinte à da atribuição do galardão.
A "leucotomia pré-frontal" era uma cirurgia ao cérebro, que Egas Moniz realizou em vários doentes e que, segundo a sua investigação, permitia aliviar substancialmente os sintomas mais agudos da doença mental nos pacientes com graves perturbações mentais a quem a medicina pouco podia oferecer para aliviar o seu sofrimento.
A cirurgia consistia num corte nos lóbulos pré-frontais do cérebro, que posteriormente deu origem à chamada "lobotomia". Era, contudo, uma prática invasiva e causadora de danos irreversíveis, razão pela qual foi abandonada e substituída pelos chamados medicamentos psicofármacos.
Ainda assim, atualmente é considerada um passo importante no progresso da saúde mental. Em 1949, a descoberta foi vista como "um marco para a ciência". "O Prémio Nobel conferido ao prof. Egas Moniz deve marcar uma nova era de progresso para a ciência portuguesa", escreveu o JN, num artigo em que classifica de "eminente cientista" um homem que também se dedicou à atividade literária, à investigação e à política.