A vida depois de um acidente de mota: "Somos uns sortudos. Estamos cá para contar a história"
Os sobreviventes chegam ao Centro de Reabilitação do Norte, em Vila da Nova de Gaia, com mazelas de variada gravidade. Para alguns, a vida não será a mesma. Quase dez mil acidentes com veículos de duas rodas foram registados no ano passado, pela PSP e a GNR. O número de sinistros não abrandou.
Corpo do artigo
A cabeça pode não se lembrar de todos os pormenores. Mas, todos os dias, quando olham para as próprias mazelas, Samuel e José sabem bem o que lhes aconteceu. Ambos tiveram acidentes ao volante de uma mota e foram considerados feridos graves. No ano passado, a PSP e a GNR registaram, em conjunto, quase 10 mil sinistros (9926) com vítimas em veículos de duas rodas. Foram mais 925 ocorrências do que em 2022. Os dois homens, em idades distintas, passaram ou estão ainda a passar por um trabalho intensivo de recuperação no Centro de Reabilitação do Norte (CRN), em Gaia. Se antes, a maioria dos doentes eram jovens adultos, hoje há mais gente a partir dos 50 anos a chegar à instituição com graves lesões no corpo.
Numa mistura entre o alívio e a desconfiança, José conta relutantemente o que lhe aconteceu em dezembro do ano passado. Conta aquilo que se lembra. Oculta a identidade porque sabe que causou muita dor à família e não quer que voltem a viver a angústia quando, por altura do Natal, pensavam que o iam perder. Aos 47 anos, teve um acidente numa localidade do distrito de Braga, durante o dia. Uma viagem de mota até ao café acabaria quase de forma trágica. Não levava capacete. “Explicaram-me que eu caí, mas nem faço a mínima ideia como foi”, diz, no dia em que teve alta do Centro de Reabilitação do Norte.